A capital francesa passa por um momento singular em sua história cultural. Ao mesmo tempo em que celebra a reabertura completa do Grand Palais, outros marcos entram em longos ciclos de renovação, revelando o esforço da cidade para preservar seu patrimônio e, ao mesmo tempo, projetar o futuro.
O Grand Palais, concebido em apenas três anos para a Exposição Universal de 1900, ressurgiu em junho após quatro anos de meticulosa restauração conduzida pelo escritório Chatillon Architectes, num investimento de quase 500 milhões de euros. O espaço centenário, símbolo da força arquitetônica e artística da França, voltou com 50% a mais de área expositiva, além de um café no mezanino e uma monumental brasserie assinada por Joseph Dirand, que se abre sob um pé-direito de dezoito metros. A reabertura confirma o papel do edifício como vitrine do soft power francês, palco de desfiles da Chanel, grandes mostras de arte e, mais recentemente, dos Jogos Olímpicos de 2024.
Mas a renovação não para ali. Paris vive um verdadeiro “turnover” cultural. Enquanto um ícone retorna, outros se fecham para reformas igualmente ousadas. O Centre Pompidou, terceiro museu mais visitado da cidade e um dos principais polos da arte moderna e contemporânea, acaba de fechar por cinco anos para uma intervenção avaliada em 358 milhões de euros, incluindo um aporte da Arábia Saudita. A obra não só removerá o amianto presente na estrutura, como também modernizará sistemas e repensará a disposição das galerias para novas gerações.

A mesma lógica de renovação se aplica a outros monumentos: o Opéra Garnier passa por obras até 2029, e o Opéra Bastille se fechará entre 2030 e 2032. O Musée d’Orsay, por sua vez, aposta em uma renovação progressiva até 2027, sem encerrar as atividades, mas criando novas áreas para fotografia contemporânea e um terraço no quinto andar. A Fondation Cartier também regressa em novo endereço projetado por Jean Nouvel, na Place du Palais Royal, reforçando o mapa parisiense da arte contemporânea.
No Louvre, a tensão entre o prestígio e a pressão do turismo atinge o limite. Com quase nove milhões de visitantes anuais e 25 mil diários diante da Mona Lisa, o museu enfrenta infiltrações, variações de temperatura que ameaçam as obras e infraestrutura insuficiente. Greves recentes escancararam a necessidade de mudanças. Um plano de modernização até 2031 promete aliviar a superlotação com novas áreas expositivas e atualizar as condições técnicas. Como sintetiza François Chatillon, também responsável pelo projeto: “É uma questão de identidade nacional. A França não pode se dar ao luxo de falhar: resta-nos a cultura e a moda, e precisamos ser impecáveis.”

Esse movimento, que envolve investimentos bilionários, é também uma aposta arriscada: reinventar a infraestrutura cultural sem diluir a aura que fez de Paris a capital mundial da arte. Na prática, o visitante encontrará alas mais silenciosas, acessos repensados e serviços reduzidos. Mas a perda é apenas aparente. Obras-primas migram para espaços mais amplos e novos olhares se voltam a museus menos óbvios, como o Palais de Tokyo, o Musée Rodin ou a Pinault Collection, entre mais de 130 instituições espalhadas pela cidade.
Entre restaurações, fechamentos e reaberturas, Paris reafirma sua vocação de palco global da cultura. Uma cidade que respira pelo passado, mas se move em direção ao futuro, determinada a permanecer no centro da cena mundial.