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Art Basel Miami: um guia elegante para explorar a edição deste ano

No início de dezembro, Miami confirma sua vocação como um dos centros culturais mais vibrantes das Américas. A Art Basel Miami Beach 2025, realizada de 5 a 7 de dezembro com prévias VIP nos dias 3 e 4, reúne 283 galerias de 43 países e ocupa novamente o Miami Beach Convention Center, irradiando energia artística por toda a cidade. A edição deste ano dá protagonismo a práticas latinas, indígenas, afro-diaspóricas e a diálogos que revisitam o modernismo a partir de perspectivas trans-hemisféricas.

O movimento se estende para muito além do Convention Center. O hotel The Betsy recebe uma mostra dedicada a Christo e Jeanne-Claude, enquanto figuras infláveis monumentais de Philippe Katerine pairam sobre a Lincoln Road. Um dos eventos paralelos mais comentados é o Mirage Factory de Alex Prager, que transforma um antigo cinema em uma instalação imersiva inspirada no imaginário da Era de Ouro de Hollywood, com performances, jantares e cenografias cuidadosamente coreografadas.

Uffner & Liu

A Uffner & Liu apresenta um conjunto marcante de artistas que investigam corpo, intimidade e memória. Anne Buckwalter cria cenas domésticas que mesclam referências da cultura holandesa da Pensilvânia com sugestões de erotismo, revelando tensões sutis entre tradição e desejo. Bernadette Despujols traz retratos que exploram fisicalidade e identidade na diáspora latino-americana, sempre com textura e proximidade emocional.

A galeria também expõe obras recentes e históricas de Reginald Madison, artista autodidata que iniciou sua trajetória no período do Movimento das Artes Negras. Seus trabalhos, marcados por ritmo, abstração e densidade poética, ampliam o escopo geracional e histórico da feira.

Jessica Silverman

Woody De Othello aparece em destaque no estande da Jessica Silverman. Sua escultura em bronze patinado, apresentada em Miami no mesmo período de sua exposição no Pérez Art Museum, reflete investigações sobre espiritualidade, rituais e a dimensão afetiva dos objetos. Othello cria composições que parecem respirar, absorver e devolver emoções, convidando o visitante a um encontro contemplativo e pessoal.

Lehmann Maupin

A Lehmann Maupin apresenta novas obras de Alex Prager que aprofundam sua estética cinematográfica e suas composições narrativas. Uma das imagens exibidas articula personagens que se observam através de janelas e superfícies refletidas, criando tensão e ambiguidade. A fotografia combina teatralidade, iluminação calculada e uma direção de cena precisa que transformam o momento capturado em um instante de história suspensa.

A presença de Prager no estande se conecta diretamente com seu projeto paralelo na cidade, reforçando a amplitude e a unidade de sua atuação nesta edição da Art Basel.

Galleries

O setor Galleries reúne 226 galerias com obras modernas, pós-guerra e contemporâneas. Entre as estreias, a Nina Johnson exibe pinturas de Patrick Dean Hubbell que combinam cosmologia Diné, gestualidade ritual e abstração. As obras evocam presença, herança e território.

A Alisan Fine Arts participa com uma seleção sofisticada de artistas sino-americanos que dialogam com o abstracionismo oriental e ocidental. Chinyee, Walasse Ting e Ming Fay revelam uma paleta de influências que atravessam história, fluxo migratório e investigação formal.

Meridians

O setor Meridians, curado por Yasmil Raymond, se dedica a obras de larga escala que investigam temporalidade e percepção. Stephanie Syjuco apresenta uma instalação que discute a construção da imagem e a política da representação por meio de estratégias fotográficas e cenográficas.

Ward Shelley constrói uma biblioteca imaginária composta por livros fictícios e documentos inventados. A instalação propõe uma reflexão material sobre a fragilidade das verdades contemporâneas em um contexto de excesso informacional.

Nova

O setor Nova reúne obras produzidas nos últimos três anos e revela o potencial da experimentação contemporânea. Hugo Crosthwaite expõe sua série Ex-Voto, que transforma a tradição devocional em relato gráfico sobre vida, fé e migração na fronteira México Estados Unidos.

Nicole Coson utiliza portas de contêineres como matrizes de impressão para criar telas marcadas por circulação, trabalho e identidade. As composições carregam gestos corporais e rastros de deslocamento global.

Positions

O setor Positions destaca artistas emergentes que investigam corpo, tecnologia e paisagem contemporânea. Carolina Fusilier apresenta esculturas que mesclam fragmentos industriais, resíduos biológicos e ativações mecânicas. As obras formam ecossistemas híbridos que parecem existir simultaneamente em passado, presente e futuro.

Josèfa Ntjam expõe um tríptico baseado em fotomontagens que combinam arquivos históricos, ficção especulativa e referências afro-diaspóricas. As imagens se desdobram em camadas que cruzam mito, memória e projeção.

Survey

O setor Survey retoma artistas historicamente subestimados. Janet Sobel surge com retratos realizados durante a Segunda Guerra Mundial que abordam deslocamento e sobrevivência. Suas figuras femininas e infantis, marcadas por expressões de dor e esperança, revelam uma sensibilidade direta e atemporal.

Um panorama que espelha a pluralidade da arte contemporânea

A Art Basel Miami Beach 2025 se anuncia como uma síntese do momento atual: conectada às novas mídias, aberta às narrativas da diáspora, atenta aos diálogos entre tradição e experimentação, e decididamente comprometida em ampliar o repertório de vozes. Em meio a galerias icônicas, artistas emergentes e instalações que transformam a cidade em uma espécie de laboratório ao ar livre, a feira reafirma seu papel como ponto de encontro entre o rigor da curadoria global e a energia inconfundível de Miami.

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