Belém vive um momento simbólico ao unir arte, ciência e memória amazônica em um dos espaços mais tradicionais da cidade. Às vésperas da COP30, o Museu de Arte Urbana de Belém (M.A.U.B.) concluiu a revitalização dos muros do Museu Paraense Emílio Goeldi, inaugurando uma galeria a céu aberto que celebra a cultura, a biodiversidade e a criatividade local.
Durante onze dias, vinte artistas se reuniram para transformar 2.500 metros de paredes em grandes painéis que dialogam com as coleções e pesquisas do museu, instituição centenária e patrimônio tombado. Foram utilizados 1.087 litros de tinta, o equivalente a 174 latas, para dar vida a dezenove murais, dezessete deles no Parque Zoobotânico e dois no Campus de Pesquisa. Cada pintura explora diferentes aspectos da Amazônia, desde a arqueologia e as heranças afro-amazônicas até os saberes indígenas e a diversidade natural.
As obras foram inauguradas no dia 28 de setembro, após um processo que começou com uma imersão dos artistas nas coleções do Museu Goeldi. Durante dois dias, eles exploraram de perto cerâmicas marajoaras, peças tapajônicas e a maior coleção indígena do mundo, guardada no Campus de Pesquisa. Dessa experiência nasceram murais que reinterpretam símbolos, memórias e conhecimentos, estabelecendo um diálogo entre passado e presente.

A seleção dos artistas foi feita por meio de edital e contou com curadoria de William Baglione, fundador do coletivo Famiglia e integrante do M.A.U.B. desde a estreia do projeto em 2023. Participaram nomes de diferentes regiões do Brasil, como Alessandro Hipz, And Santtos, Cely Feliz, Kekel, Graf, Wira Tini, Deco Treco, Wes Gama, Ayala, João Nove – Digital Orgânico, Éder Oliveira, Chico Ribeiro, Alex Senna, LENU, Dudi Rodrigues, Dedéh Farias, Amanda Nunes, Dannoelly Cardoso e a dupla Gabz e Tsssrex. A diversidade de estilos e referências resultou em uma composição visual que valoriza tanto a representação direta da fauna e flora quanto leituras mais subjetivas da biodiversidade amazônica.
Segundo Gibson Massoud, fundador da Sonique, realizadora do M.A.U.B., a iniciativa representa um gesto histórico para Belém em um momento crucial. “Transformar os muros do Museu Goeldi em uma galeria de arte urbana a céu aberto é um gesto histórico para Belém, ainda mais em ano de COP30. Cada mural nasce do respeito à história e ao acervo do museu, mas também da força criativa de artistas de diferentes lugares do Brasil, sobretudo dos paraenses, que traduzem em cores as suas memórias e identidades”, afirma.
A terceira edição do M.A.U.B. consolida o projeto como um marco na cena cultural da cidade, reforçando o papel da arte urbana como ferramenta de preservação, diálogo e projeção internacional da Amazônia. A ação é uma realização da Sonique Produções e da Oito Quatro Produções, com patrocínio da Vale via Lei Rouanet e apoio institucional do Governo Federal e do Ministério da Cultura. Os murais permanecerão expostos por pelo menos um ano, acompanhando os debates culturais e ambientais que antecedem a conferência climática.