A Fórmula 1 não chega mais a Las Vegas apenas como um espetáculo de três dias em novembro. A cidade que transformou entretenimento em sua principal identidade agora assume oficialmente o posto de capital mundial da categoria, com atrações permanentes que fazem do automobilismo parte do cotidiano local. O Grand Prix Plaza, erguido no coração da Strip, tornou-se o maior edifício de boxes da F1 no planeta e abriga não apenas o paddock durante o fim de semana da corrida, mas uma série de experiências imersivas que permanecem abertas ao longo do ano.
Ali, fãs de todas as idades encontram no F1 X uma verdadeira imersão tecnológica: projetam carros virtuais, correm em simuladores em 4D pelo circuito da Strip e exploram exposições que reconstroem a trajetória da modalidade, exibindo relíquias como jaquetas de pilotos, gravações originais de rádio e peças que marcaram épocas. O espaço presta também uma homenagem à engenharia e à paixão por trás da velocidade, lembrando figuras como Dino Ferrari, filho de Enzo, eternizado em um dos modelos mais icônicos da marca italiana.

O entretenimento não se restringe ao universo histórico. O restaurante Fuel & Fork oferece uma cozinha que equilibra conforto e sofisticação, enquanto o F1 HUB se transforma em ponto de encontro para aficionados e curiosos, reunindo simuladores oficiais, loja de produtos exclusivos e um lounge vibrante. O ápice, porém, está no F1 Drive, a única pista de kart elétrica instalada em um trecho real de circuito da Fórmula 1. Por alguns minutos, visitantes assumem o papel de pilotos em karts equipados com tecnologia DRS e volantes digitais, desafiando amigos e desconhecidos em corridas que reproduzem, em escala, a adrenalina de uma prova oficial.

Os impactos dessa presença vão além do turismo e do lazer. A primeira corrida realizada em 2023 movimentou cerca de 1,5 bilhão de dólares, resultado impulsionado também por investimentos em infraestrutura. O segundo evento, em 2024, gerou 934 milhões, número ainda expressivo para uma das semanas mais frias do calendário de Las Vegas. Com a extensão do contrato até 2027, o que se observa é um esforço coletivo de hotéis, cassinos, autoridades locais e da própria Liberty Media em transformar a Fórmula 1 em um ativo estratégico da cidade.

Os organizadores, no entanto, enfrentaram desafios. A percepção de que os ingressos eram excessivamente caros afastou parte do público de renda média, levando a uma revisão de preços e à criação de pacotes mais acessíveis para 2025. O objetivo, segundo Emily Prazer, presidente da Las Vegas Grand Prix Inc., é democratizar o acesso e consolidar a prova como experiência inesquecível para todos os perfis de fãs.

Paralelamente, a Fórmula 1 tem investido em iniciativas comunitárias. Mais de mil jovens do Boys & Girls Clubs of Southern Nevada participaram de um programa de karting que alia o prazer da velocidade ao aprendizado em ciência, tecnologia e trabalho em equipe. Essa aproximação fortalece o vínculo entre a cidade e o evento, transformando a corrida não apenas em espetáculo global, mas também em parte da identidade social de Las Vegas.
A ascensão da categoria no mercado americano é inegável. Embora tenha tido campeões pontuais, como Phil Hill e Mario Andretti, a Fórmula 1 sempre foi vista como esporte de raízes internacionais. Hoje, contudo, sua mistura de potência, tecnologia e narrativa dramática conquistou definitivamente os Estados Unidos. Se o futuro reservará um campeão vindo de Las Vegas, é cedo para dizer. Mas a cidade já se consagrou como o palco mais americano da mais internacional das competições.