Poucos SUVs no mercado brasileiro conseguem equilibrar tradição e modernidade como o Jeep Grand Cherokee. Desde os anos 1990, o modelo foi muito mais do que apenas um automóvel: transformou-se em um símbolo de status e poder, especialmente entre boleiros, empresários e celebridades. Naquela época, a aura premium da Jeep, mesmo não sendo oficialmente uma marca de luxo, encontrou no Grand Cherokee sua maior expressão, em um mercado que ainda não era dominado por BMW, Audi, Mercedes-Benz e Volvo. Hoje, quase três décadas depois, o Grand Cherokee ressurge em nova geração para manter vivo esse legado. A Jeep entendeu que, em um cenário global de eletrificação, o modelo precisava se alinhar à tendência, mas sem trair seu DNA de robustez e imponência.

O design da nova geração traduz essa maturidade com rara sobriedade. Longe de adotar exageros estilísticos, o Grand Cherokee aposta em proporções clássicas, linhas limpas e presença marcante. São 4,91 metros de comprimento, quase dois metros de largura e altura de 1,79 m, medidas que o colocam acima do Commander, por exemplo, e reforçam sua posição como SUV de referência no portfólio Jeep. A grade de sete fendas continua sendo a assinatura da marca, agora ladeada por faróis afilados full LED que dialogam com a modernidade. As lanternas traseiras interligadas por uma barra com o nome Jeep gravado adicionam contemporaneidade, ainda que a faixa não seja iluminada. Rodas de 20 polegadas completam o conjunto, conferindo imponência sem recorrer a truques artificiais de design que envelhecem cedo, uma escolha que privilegia a atemporalidade e o gosto de quem valoriza discrição com elegância.


O interior é outro ponto onde o Grand Cherokee reafirma sua vocação premium, ainda que com ressalvas. A cabine é generosa em espaço e transmite a sensação de solidez que sempre marcou o modelo. Os bancos em couro de boa qualidade, o painel digital de 10,25” e a central multimídia de 10,1” com conexão sem fio são elementos que, juntos, aproximam o Jeep dos rivais europeus. Há ainda refinamentos como HUD de 10”, sistema de som Alpine com cancelamento de ruídos e até uma tela exclusiva para o passageiro dianteiro, recurso que, curiosamente, não pode ser utilizado no Brasil devido a restrições legais. Apesar dos destaques, nota-se certa economia em materiais: a presença de plásticos rígidos na parte inferior dos acabamentos contrasta com a proposta de SUV acima dos R$ 500 mil. Ainda assim, a ergonomia, a boa montagem e os equipamentos de série fazem do habitáculo um ambiente sofisticado e acolhedor.
A mecânica brasileira concentra-se na versão 4xe híbrida plug-in, oferecida a partir de R$ 569.990. Sob o capô, o motor 2.0 turbo Hurricane de 272 cv trabalha em conjunto com dois motores elétricos, resultando em potência combinada de 380 cv e torque robusto de 65 kgfm. Essa força é distribuída pela transmissão automática de oito marchas, que também integra um dos propulsores elétricos ao eixo traseiro, garantindo tração integral clássica, fiel ao DNA Jeep. A bateria de 17,3 kWh permite recarga apenas em corrente alternada de até 7,2 kW, completando o processo em cerca de 2h30 em tomadas residenciais de 220V aterradas ou em wallboxes. Na teoria, a autonomia elétrica pode chegar a 29 km pelo padrão Inmetro, e até 40 km em condições híbridas mais favoráveis, mas a prática mostra uma dependência significativa do motor a combustão em situações de maior exigência, como ladeiras ou ultrapassagens.



Em termos dinâmicos, o Grand Cherokee 4xe é um SUV convincente, ainda que não seja um híbrido de referência. No modo híbrido, com a bateria carregada, o desempenho impressiona: 0 a 100 km/h em 5,5 segundos, respostas rápidas e aceleração vigorosa. O consumo urbano pode alcançar 13 km/l em uso combinado, mas cai para médias de 8 a 9 km/l quando a carga da bateria se esgota, o que revela a limitação do sistema. O modo elétrico puro, embora eficiente para trajetos urbanos curtos, sofre com a baixa autonomia e a pouca força do motor elétrico para mover sozinho as mais de duas toneladas do SUV. Mesmo assim, o conforto de rodagem se mantém como um trunfo inquestionável: isolamento acústico refinado, suspensão robusta mas confortável e porta-malas de 580 litros tornam o Grand Cherokee apto a longas viagens, rivalizando em bem-estar com BMW X5, Mercedes GLE e Volvo XC90.

O que se percebe é que o Grand Cherokee 2025 no Brasil cumpre um papel estratégico: ele não busca ser o híbrido plug-in mais eficiente ou tecnológico, mas sim preservar a relevância da Jeep no segmento de luxo, oferecendo um produto que combina tradição, desempenho e imponência. É um carro que os concessionários precisam ter em catálogo para evitar que clientes fiéis migrem para as marcas premium tradicionais em busca de status e sofisticação. Se o sistema híbrido 4xe ainda não impressiona tanto quanto poderia, a presença do Grand Cherokee segue justificando-se por sua história, por sua imagem e por aquilo que representa no imaginário coletivo: um Jeep que transcende o off-road e se coloca como alternativa legítima entre os grandes SUVs de luxo.