O símbolo mais cobiçado da gastronomia mundial agora também brilha sobre o universo da hospitalidade. Após mais de um século de tradição com suas icônicas estrelas, a Michelin apresenta o reconhecimento máximo em hospedagem: as Chaves Michelin. A primeira seleção global foi revelada em Paris e coroou 143 hotéis com três chaves, distinção que celebra experiências extraordinárias em conforto, elegância e autenticidade.

A novidade amplia o olhar da marca para além das mesas estreladas e confirma o retorno da Michelin às origens. Criado em 1900 pelos irmãos André e Édouard Michelin como um guia para incentivar motoristas a viajar mais, o pequeno livro vermelho evoluiu para um manual de descobertas. A nova classificação reafirma esse espírito explorador, agora dedicado a experiências de hospedagem que inspiram e emocionam.
Em 2025, o guia chega a 26 países, incluindo Brasil, Índia, Marrocos e Vietnã, com 2.457 endereços selecionados. Desses, 143 receberam o reconhecimento máximo, cada um com sua essência e identidade. Há refúgios de selva na Costa Rica, ryokans seculares no Japão, resorts monumentais em Dubai e lodges intimistas na África do Sul. A diversidade é o fio condutor de uma curadoria que privilegia autenticidade e sentido de lugar.

A Michelin mantém o mesmo rigor que a consagrou entre gourmets. Inspetores anônimos avaliam cada propriedade com base em cinco pilares universais: arquitetura e design, conexão com a vida local, qualidade do acolhimento, relação custo-benefício e autenticidade. Segundo Gwendal Poullennec, diretor internacional dos Guias Michelin, o momento é propício para um novo olhar sobre a hospitalidade. “Não se trata apenas de oferecer um quarto, mas de criar uma experiência que traduza a alma do destino”, afirmou.
A proposta surge em um cenário em que viajantes buscam cada vez mais recomendações confiáveis, livres da volatilidade das avaliações online. As chaves, assim como as estrelas, prometem se tornar um selo de credibilidade global. Para a empresária de turismo de luxo Cari Gray, a expansão é natural. “A reputação construída na gastronomia pode rapidamente se traduzir no setor hoteleiro”, afirmou.

A lista de três chaves revela destinos que são verdadeiras obras de arte da hospitalidade. Na África, o lendário La Mamounia em Marrakech encanta com mosaicos e fontes, enquanto o Giraffe Manor, em Nairóbi, oferece a experiência singular de dividir o café da manhã com girafas. No Japão, o Asaba Ryokan, uma pousada com mais de cinco séculos de história, mantém viva a tradição da hospitalidade japonesa. Na Europa, o charme parisiense do Saint James Paris e a grandiosidade do Airelles Château de Versailles exemplificam o luxo atemporal francês.
Nas Américas, o destaque vai para o Kona Village, A Rosewood Resort, no Havaí, redesenhado em 2023, e para o Fogo Island Inn, no Canadá, ícone do design sustentável. Na América do Sul, o chileno Awasi Patagonia oferece privacidade e natureza bruta às margens do Parque Nacional Torres del Paine, enquanto na Austrália o Lizard Island Resort reina isolado sobre a Grande Barreira de Corais.

As Chaves Michelin não apenas classificam hotéis. Elas restauram a ideia de viagem como descoberta, encontro e contemplação. Em um mundo de algoritmos e escolhas automáticas, a marca reafirma o valor da curadoria humana, do olhar atento e da experiência transformadora. Viajar, afinal, continua sendo uma arte, e a Michelin parece pronta para guiá-la novamente.