A aproximação entre Apple e Issey Miyake sempre existiu de forma quase silenciosa, sustentada por afinidades profundas e não por estratégias comerciais. Dois universos criativos distintos, mas impulsionados pela mesma crença no design como linguagem, ferramenta e emoção. Agora, essas afinidades ganham forma em um objeto que parece simples à primeira vista, mas que condensa décadas de pesquisa, experimentação e sensibilidade: o iPhone Pocket, um acessório vestível que reposiciona a relação entre tecnologia, corpo e estilo.

O lançamento, previsto para 14 de novembro de 2025 em edição limitada, celebra um diálogo que começou muito antes de existir um produto. A admiração mútua entre as equipes levou designers da Apple ao estúdio da Issey Miyake em Tóquio e profissionais da marca japonesa ao Apple Park, na Califórnia. As visitas, conduzidas sem a pressão de uma entrega, funcionaram como uma troca honesta de referências e intuições. Segundo Molly Anderson, líder de design industrial da Apple, não havia planos definidos; havia apenas o desejo de entender o que movia cada lado e como esse repertório poderia, um dia, encontrar interseções.
O resultado dessa aproximação surge agora como um objeto que une tecnologia e moda sem hierarquias. Criado a partir de uma única peça de malha 3D, o iPhone Pocket segue a filosofia APOC, conceito que Issey Miyake apresentou ao mundo em 1998. APOC, sigla para “a piece of cloth”, inaugura uma lógica de produção em que roupas e acessórios são concebidos como estruturas contínuas, quase esculturas têxteis que abandonam o corte e a costura em favor de uma arquitetura mais fluida. O novo acessório retoma esse princípio em uma peça que lembra uma meia tubular de textura plissada e elástica, pensada para acomodar o iPhone, mas também outros itens essenciais que costumamos carregar nos bolsos ou em bolsas tradicionais.

Há uma intenção lúdica que atravessa todo o projeto. O iPhone Pocket não esconde o que guarda; ao contrário, expande e revela, criando volumes orgânicos que variam conforme o conteúdo. Anderson descreve esse gesto como um charme inesperado: a forma final nunca é fixa, mas resultado da interação entre objeto e usuário, como se o acessório tivesse vida própria. A proposta ressignifica a relação com a tecnologia e substitui a rigidez habitual por um uso mais sensorial e flexível.
Yoshiyuki Miyamae, designer à frente da A-POC Able Issey Miyake, afirma que a pergunta que guiou a equipe era quase óbvia: como vestir um iPhone? Em sua visão, o smartphone tornou-se tão presente que já faz parte da composição visual de cada pessoa. Carregá-lo, portanto, deveria ser uma extensão natural do vestir, e não um gesto desconfortável mediado por bolsas pesadas ou bolsos improvisados. O iPhone Pocket surge como resposta a essa reflexão, propondo um uso leve, colorido e intuitivo. A paleta, composta por oito tonalidades vibrantes, reforça essa disposição ao jogo e à experimentação.

Apesar da simplicidade aparente, o produto exigiu uma extensa pesquisa de materiais, tensões, espessuras e comportamentos de tração. Cada detalhe foi estudado, desde o modo como o acessório se ajusta ao corpo até a embalagem de papel translúcido que acompanha o lançamento. Nada é aleatório; tudo segue a lógica minimalista e meticulosa que aproximou Apple e Issey Miyake desde o início.
Há também um aspecto quase poético no encontro entre as duas marcas. Steve Jobs e Issey Miyake tiveram uma relação marcada pela admiração mútua, e o icônico suéter preto do fundador da Apple tornou-se um símbolo dessa conexão estética. O iPhone Pocket atualiza essa herança de maneira contemporânea, preservando o espírito de liberdade e precisão que acompanhou os dois criadores ao longo de suas trajetórias. Miyamae afirma que, se Miyake estivesse vivo, veria neste projeto o início de uma nova possibilidade, uma expansão natural do design como gesto e como experiência.

O iPhone Pocket se insere em um momento em que os dispositivos eletrônicos deixam de ser apenas ferramentas e passam a ocupar um lugar simbólico no cotidiano. Sua natureza vestível antecipa um futuro em que tecnologia e moda se cruzam de maneira mais orgânica, aproximando-se de uma estética sensorial e pessoal. Ao unir a engenharia da Apple à visão têxtil inovadora da Issey Miyake, o acessório inaugura uma nova etapa na relação entre o corpo e o digital, propondo um novo modo de carregar o indispensável. É um objeto pequeno, mas capaz de revelar um universo de ideias, experiências e histórias compartilhadas.