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Nova câmera da Leica une tradição com precisão tecnológica

Enquanto celebra cem anos de excelência na construção de equipamentos fotográficos, a Leica vive um de seus momentos mais decisivos. A chegada da EV1 marca uma inflexão histórica dentro da linha M, ao substituir o clássico telêmetro mecânico por um visor eletrônico integrado. Trata se de uma mudança simbólica e técnica ao mesmo tempo, capaz de dividir opiniões entre os puristas, mas também de reposicionar a marca diante das demandas contemporâneas da fotografia.

Desde 1954, a série M construiu sua identidade em torno da precisão manual e da experiência quase ritualística de focar a imagem por meio do alinhamento de duas cenas sobrepostas. O próprio nome do sistema deriva do termo alemão Messsucher, telêmetro, um elemento que se tornou parte indissociável do imaginário Leica. Ao adotar um visor eletrônico de alta resolução, a EV1 abandona esse método tradicional e oferece ao fotógrafo uma visualização digital da imagem final, com recursos avançados de assistência ao foco, como ampliação e leitura direta da nitidez em tempo real.

A decisão não surge sem precedentes. Ao longo de sua história, a Leica já produziu modelos da linha M sem telêmetro, como as versões MD, MDa e MD2, voltadas a usos científicos e laboratoriais, operadas em conjunto com visores externos Visoflex. Ainda assim, a EV1 é a primeira a incorporar de forma definitiva o visor eletrônico ao corpo principal da câmera, sem recorrer a acessórios adicionais.

Visualmente, a mudança é sutil, mas significativa. A tradicional janela frontal desaparece, assim como o seletor físico de ISO no topo do corpo, consequência direta da integração do visor eletrônico. Em contrapartida, a câmera mantém o porte compacto, a ergonomia familiar e a construção sólida que consagraram a linha M. A ausência do conjunto óptico do telêmetro também resulta em um corpo mais leve, cerca de 80 gramas a menos, sem comprometer a sensação de robustez.

Na prática, a EV1 revela vantagens claras, sobretudo em situações de foco a curta distância, um ponto historicamente sensível nas câmeras M devido ao erro de paralaxe. A possibilidade de focar e compor simultaneamente amplia a precisão e agiliza o processo criativo, aproximando a experiência do fotógrafo daquilo que ele efetivamente registrará no arquivo final. Ainda assim, a compatibilidade com todas as lentes M já produzidas preserva um dos pilares mais valorizados do sistema.

Assim como ocorreu em outros momentos de ruptura tecnológica na indústria, a exemplo da transição da Porsche dos motores refrigerados a ar para os refrigerados a água, a EV1 pode causar estranhamento inicial entre os entusiastas mais fiéis. No entanto, ao equilibrar respeito ao legado com avanços concretos em usabilidade e precisão, a Leica sinaliza que sua longevidade está ancorada não apenas na tradição, mas também na capacidade de evoluir. A EV1 não apaga a história da linha M, mas redefine seus próximos capítulos.

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