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Roubos de relógios de luxo disparam na Europa

De Londres a Barcelona, um fenômeno inquietante vem se intensificando nas ruas: o crescimento alarmante de assaltos direcionados a relógios de alto padrão como Rolex, Cartier e Patek Philippe. O que antes era um problema restrito a joalherias, com ações de arrombamento e ataques cinematográficos, hoje se espalha pelas calçadas em plena luz do dia, atingindo turistas e colecionadores que exibem discretamente seus exemplares.

No Reino Unido, o caso mais chocante ocorreu em julho, quando um jovem pai de 24 anos foi morto a facadas em Knightsbridge, um dos bairros mais sofisticados de Londres, após ser abordado por um assaltante armado interessado em seu Rolex de ouro. O episódio, amplamente noticiado pela imprensa britânica, tornou-se símbolo da escalada da violência em torno da relojoaria de luxo.

Segundo Katya Hills, diretora do The Watch Register em Londres, base de dados privada dedicada à recuperação de relógios roubados, o perfil dos crimes mudou nos últimos anos. “Antes da pandemia, em 2019, o auge dos roubos estava ligado a ataques em joalherias. Agora, o cenário é outro: assaltos de rua cometidos por duplas em motocicletas, armadas com facas ou armas de fogo, e muitas vezes em plena luz do dia. Esse tipo de crime já existia, mas atingiu um nível sem precedentes”, afirma.

O problema não se restringe ao Reino Unido. Barcelona tornou-se outro ponto crítico, onde turistas são alvos frequentes, sobretudo no centro histórico. A logística dos criminosos dificulta a investigação: relógios roubados são repassados em segundos a receptadores que rapidamente inserem as peças no mercado paralelo. “Há redes inteiras especializadas nesse comércio. A velocidade é tamanha que, em minutos, o relógio já pode estar em outra cidade ou até em outro país”, explica Hills.

O combustível para essa escalada, de acordo com especialistas, é a força do mercado secundário. Relógios de luxo, sobretudo esportivos, continuam sendo vendidos acima do valor de varejo, o que os torna alvos perfeitos. Rolex lidera a lista, representando 45% dos casos registrados pelo Watch Register, seguida por Cartier, que recentemente ultrapassou Omega e Patek Philippe e hoje ocupa a segunda posição entre as mais roubadas. “O crescimento da Cartier é reflexo direto do momento da marca, que vive um boom de demanda mundial”, aponta Hills.

Além do valor, a natureza desses objetos facilita a ação criminosa. Pequenos, portáteis, discretos e rastreáveis apenas pelo número de série, relógios podem ser usados pelo próprio ladrão ou revendidos com facilidade em outros mercados. Ao contrário de uma obra de arte, que possui traços visuais únicos, uma peça de relojoaria não denuncia por si só sua procedência.

Diante desse cenário, a recomendação dos especialistas é clara: evitar ostentação, registrar o número de série e manter cópias digitais da documentação. “A maioria das vítimas não anota o número de série e, sem ele, a recuperação é praticamente impossível”, alerta Hills. Em caso de roubo, a rapidez é determinante. A denúncia deve ser feita imediatamente à polícia, à seguradora e ao Watch Register, já que muitas vezes o relógio é revendido em questão de horas.

Ainda assim, a jornada pela recuperação costuma ser longa. “Pode levar meses ou até anos para recuperar uma única peça. Mantemos centenas de casos ativos simultaneamente”, revela Hills. Enquanto isso, o colecionador apaixonado por sua peça icônica precisa conviver com uma nova realidade: a da vulnerabilidade de um acessório que, ao mesmo tempo que simboliza luxo e status, tornou-se também um dos alvos preferidos do crime organizado.

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