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Spas modernos oferecem muito mais que descanso: Ciência e inovação em foco

Os spas, antes vistos apenas como refúgios de relaxamento com massagens para casais e chás de ervas, estão assumindo um novo papel como destinos que unem hospitalidade de luxo e práticas médicas avançadas. Em resorts e centros de bem-estar ao redor do mundo, o conceito de relaxamento foi ampliado para incluir tratamentos embasados em ciência, desenvolvidos por equipes médicas e direcionados não apenas ao alívio imediato, mas à prevenção e otimização da saúde a longo prazo.

Locais icônicos como o Pebble Beach, nos Estados Unidos, passaram a oferecer terapias com luz infravermelha e cadeiras antigravitacionais, que se somam às tradicionais práticas de fisioterapia voltadas para o desempenho esportivo. Na Europa, destinos consolidados como o Preidlhof e o Sha Wellness Clinic introduziram clínicas médicas do sono e terapias com pulsos eletromagnéticos, enquanto no exclusivo Velaa Private Island, nas Maldivas, hóspedes experimentam uma “sala de neve” crioterápica em pleno paraíso tropical. O cardápio de serviços também inclui infusões intravenosas de vitaminas, terapias com células-tronco e testes biométricos que resultam em planos personalizados, compondo uma abordagem mais abrangente de bem-estar, que vai além do tratamento de queixas e foca no prolongamento da vitalidade e na qualidade de vida.

Para o médico Darshan Shah, fundador do centro de longevidade e otimização Next Health, o crescimento desse movimento se deve, em parte, às lacunas do modelo tradicional de saúde, que ele define como centrado em “tratamento de doenças”. Ao focar em resolver problemas somente quando se tornam críticos, o sistema abre espaço para experiências que unem o rigor médico ao cuidado preventivo. Esse modelo atrai especialmente indivíduos instruídos e dispostos a investir em sua própria saúde, que encontram nos spas um ambiente onde a busca por longevidade se torna também uma experiência de luxo.

A diretora do spa Four Seasons Maui at Wailea, Pat Makozak, observa que a integração entre tecnologia médica e rituais de bem-estar é natural e bem recebida pelos clientes. Segundo ela, o interesse por tratamentos intravenosos, crioterapia e outros recursos tecnológicos cresce de forma orgânica entre hóspedes que, ao agendar massagens ou faciais, acabam incorporando essas práticas às suas rotinas. Para Makozak, a tendência é uma extensão do que já ocorre com tratamentos estéticos como Botox e crioterapia, que há anos fazem parte do universo dos spas, agora aplicados a um contexto mais abrangente de saúde e prevenção.

O avanço, contudo, não está isento de críticas. O anestesiologista Monty Dunn, de São Francisco, alerta que muitas terapias amplamente oferecidas ainda carecem de respaldo científico robusto. Ele destaca que a maioria dos suplementos, inclusive os administrados por via intravenosa, tem eficácia limitada, e lembra que, apesar do interesse crescente em células-tronco, a ciência ainda não domina a capacidade de direcioná-las para a regeneração de tecidos específicos, o que torna seus benefícios questionáveis e, em alguns casos, potencialmente arriscados. Dunn também ressalta que, embora os testes biométricos e análises sanguíneas tenham valor, muitos marcadores de doenças comuns ainda não são conhecidos, o que limita o impacto real dessas ferramentas no diagnóstico precoce.

Ainda assim, para especialistas como Vishal Patel, diretor médico da Sensei, retiro fundado por Larry Ellison e dedicado exclusivamente a práticas validadas pela ciência, o crescimento desse mercado reflete um desejo crescente por uma visão mais ampla de saúde, que une prevenção, personalização e experiências transformadoras. Jim Cahill, especialista em neurociência contemplativa na mesma instituição, acredita que mesmo a busca por resultados imediatos pode servir como ponto de partida para mudanças consistentes. Para ele, programas que promovem melhorias rápidas em sono, alimentação, gestão do estresse e movimento funcionam como porta de entrada para uma transformação mais profunda, quando acompanhados de orientação contínua e práticas sustentadas.

Nomes como Ronjon Nag, inventor e investidor de tecnologia e longevidade, também veem nesse movimento uma ponte entre ciência de ponta e qualidade de vida. Ele apoia e investe em empresas que exploram desde o rejuvenescimento celular até vacinas que visam retardar o envelhecimento, defendendo que a inovação privada terá papel central na evolução do setor ao adotar abordagens orientadas por dados e centradas no paciente.

Embora esses programas dificilmente contem com cobertura de seguros de saúde e representem um investimento elevado, atraem cada vez mais pessoas em busca de vitalidade e longevidade. Médicos como Darshan Shah recomendam cautela ao aderir a esse universo, indicando a escolha de estabelecimentos com supervisão médica licenciada e a consulta prévia com profissionais de confiança para avaliar a real necessidade e o custo-benefício de cada tratamento.

Com a transformação do conceito de spa, o que antes era sinônimo de relaxamento tornou-se um espaço onde ciência e bem-estar convergem. Para aqueles dispostos a investir em avaliações completas e programas personalizados, esses destinos oferecem um caminho que une sofisticação, tecnologia e o desejo crescente de viver mais e melhor.

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