Na entrada oriental da Costa Amalfitana está Vietri sul Mare, uma cidade que muitas vezes passa despercebida por viajantes apressados, mas que revela sua grandeza em detalhes. É aqui que nasceu a tradição cerâmica da Campânia, uma herança que remonta ao século XV e que ainda hoje cobre fachadas, cúpulas e interiores com cores vivas. A Igreja de San Giovanni Battista, com sua cúpula revestida de majólica, é um ícone desse legado.

Nas ruas, o cotidiano ainda pulsa com autenticidade. Peixarias e pequenas mercearias superam as lojas de souvenires, reforçando a atmosfera local. Lendas contam que, durante a Segunda Guerra, soldados alemães se encantaram tanto com os azulejos coloridos que pouparam Vietri dos bombardeios. A poucos passos do centro, a Spiaggia della Crestarella oferece uma paisagem dominada por uma antiga torre medieval, onde guarda-sóis coloridos se alinham na areia e restaurantes mediterrâneos servem frutos do mar quase à beira da água.
Nerano: refúgio dos iniciados
No extremo oeste da costa, Nerano guarda ares de retiro. O pequeno vilarejo pesqueiro é famoso pelo spaghetti alla Nerano, prato criado na década de 1950 no restaurante Maria Grazia, à beira da Marina del Cantone. A receita, de simplicidade genial, une abobrinha frita e queijo provolone, e tornou-se um símbolo da gastronomia local.

A região abriga enseadas preservadas como a Baia di Ieranto, dentro de uma reserva marinha que só pode ser acessada por trilhas ou barco. Suas águas cristalinas atraem mergulhadores e velejadores. Lo Scoglio, restaurante lendário que já recebeu nomes como Gianni Agnelli e Lucio Dalla, continua sendo administrado pela família De Simone, agora na terceira geração, mantendo viva a tradição de hospitalidade e cozinha autêntica.
Minori e Maiori: irmãs entre história e sabores
Maiori, com sua longa praia em formato de meia-lua, é o contraponto animado da vizinha Minori, mais charmosa e histórica. Ali, é possível visitar as ruínas de uma vila romana do século I, testemunho da importância da região desde a Antiguidade.

Minori também é um paraíso para gourmets. Foi berço do mestre confeiteiro Sal De Riso, cujo café ainda hoje é endereço obrigatório para provar a delizia al limone, doce leve e aromático que sintetiza a essência cítrica da costa. As duas cidades são conectadas pelo Sentiero dei Limoni, uma trilha entre terraços de limoeiros que perfuma o ar e oferece vistas deslumbrantes do mar Tirreno.
Positano: ícone da dolce vita
Positano é a mais famosa entre as cidades da Costa Amalfitana e, mesmo com o turismo intenso, mantém seu charme inabalável. No século XIX, era uma vila pesqueira adormecida, até ser revelada ao mundo pelo escritor John Steinbeck em 1953. Desde então, tornou-se cenário da dolce vita e destino preferido da elite internacional.

Suas ruelas verticais são tomadas por boutiques de linho, oficinas de sandálias artesanais e cafés cheios de vida. Na Marina Grande, epicentro do movimento, restaurantes e bares disputam espaço com a faixa de areia escura. Quem busca exclusividade pode partir em barcos para enseadas escondidas ou para o restaurante Da Adolfo, acessível apenas pelo mar, onde mesas rústicas servem pratos frescos diante de águas cristalinas. Positano é menos sobre monumentos e mais sobre a experiência: ver e ser visto, brindar ao entardecer e se perder na beleza arrebatadora das encostas.

Praiano: charme discreto e vistas infinitas
Entre Positano e Amalfi está Praiano, destino para aqueles que buscam tranquilidade e autenticidade. Sem um centro urbano definido, a vida aqui acontece em bares de bairro, como o Bar del Sole, onde moradores e visitantes se encontram para o aperitivo.

La Gavitella, uma das praias mais conhecidas, é acessada por mais de 350 degraus, mas recompensa o esforço com a rara posição solar que garante luz até o fim da tarde. Marina di Praia, pequena enseada cercada por falésias, é ponto de partida para barcos rumo a Capri ou grutas escondidas. No alto das colinas, Agerola e Furore revelam vinhedos heróicos, onde Marisa Cuomo e Andrea Ferraioli produzem vinhos DOC Costa d’Amalfi em encostas íngremes, unindo o terroir ao mar e ao sol da região.

Amalfi e Atrani: tradição e cotidiano
Amalfi já foi uma poderosa república marítima, rivalizando com Veneza e Pisa entre os séculos IX e XII. Hoje, o turismo domina, mas o passado ainda resiste no Valle dei Mulini, onde antigos moinhos de papel lembram sua vocação artesanal. No coração da cidade, a Piazza del Duomo concentra a vida social diante da catedral de Sant’Andrea, com sua fachada em estilo normando-árabe e portas de bronze moldadas em Constantinopla no século XI.

Para uma pausa doce, a Pasticceria Pansa é referência, servindo delizie al limone desde o século XIX. A poucos passos, Atrani preserva a atmosfera de aldeia medieval, com casas brancas apertadas em vielas e escadarias. A trattoria A’Paranza é um segredo guardado pelos locais, servindo peixes frescos em um ambiente familiar.

Ravello e Scala: elegância suspensa
Ravello é considerada a joia aristocrática da Costa Amalfitana. A 350 metros acima do nível do mar, oferece um silêncio e uma serenidade quase irreais. Palácios e villas, como a Rufolo e a Cimbrone, guardam jardins lendários e panoramas que inspiraram artistas, músicos e escritores desde o século XIX. Foi em Ravello que Wagner encontrou inspiração para a ópera Parsifal, e que Greta Garbo buscou refúgio nos anos 1930.

Além do seu Duomo medieval, destaca-se a ousadia moderna do auditório projetado por Oscar Niemeyer, com curvas brancas que dialogam com o horizonte marítimo. Já Scala, a vizinha mais discreta, preserva palácios desbotados e um duomo imponente, vestígios da importância que teve como fortaleza da antiga república.
Experiências além das cidades
Viver a Costa Amalfitana vai além das vilas. O Sentiero degli Dei é uma das trilhas mais espetaculares da Itália, ligando Agerola a Nocelle com vistas de perder o fôlego. Pelo mar, cavernas como a Grotta dello Smeraldo ou enseadas como a de Crapolla revelam segredos escondidos entre falésias. O Fiordo di Furore, reconhecido pela UNESCO, surpreende com sua pequena praia cercada por penhascos verticais.

Em Cetara, a tradição da colatura di alici resiste em oficinas familiares, transformando anchovas em um líquido âmbar de sabor ancestral. Para quem deseja mergulhar na cultura gastronômica, há experiências íntimas como as aulas de culinária de Felicia e Giovanna, onde receitas de massas são transmitidas em pátios perfumados por limões.

Nos bares e vinícolas, o espírito mediterrâneo se prolonga em brindes ao entardecer. Franco’s Bar, em Positano, é ponto de encontro da elegância descontraída, enquanto os vinhos de Marisa Cuomo, em Furore, traduzem o heroísmo da viticultura local em taças memoráveis.
