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Bolsas como ativos: escassez, autenticidade e retorno financeiro impulsionam mercado de resale

A recente venda da icônica Birkin feita sob medida para Jane Birkin, arrematada por 8,6 milhões de euros em um leilão em Paris, não apenas estabeleceu um novo recorde no mercado de acessórios de luxo, mas também sinalizou um movimento mais profundo e sofisticado: o luxo como ativo financeiro de alta performance. Trata-se da maior quantia já paga por uma bolsa em toda a história e um marco simbólico da consolidação do investimento em moda como estratégia patrimonial legítima.

Se no passado uma bolsa Hermès era vista como um símbolo de status ou uma extensão da personalidade de quem a carregava, hoje ela é também uma ferramenta de diversificação de portfólio. A escassez, a excelência artesanal e a valorização constante transformaram esses objetos de desejo em verdadeiros ativos tangíveis. Nos Estados Unidos, modelos como a Birkin 25 registraram valorização de mais de 15% entre 2019 e 2024. A Birkin 30, por sua vez, teve um aumento de 13,63% no mesmo período. Na Europa, esse desempenho foi ainda mais expressivo: 30,3% e 24,5%, respectivamente.

No Brasil, o reflexo dessa transformação já é perceptível no mercado secundário. A Front Row, plataforma especializada na revenda de bolsas Hermès e artigos de luxo de alto padrão, reportou um crescimento de 33,12% no volume total de vendas em 2024. A empresa, que opera com um ticket médio de R$ 55 mil, projeta expansão de até 40% em 2025, impulsionada por um perfil de consumidor que enxerga na moda de luxo uma nova fronteira de rentabilidade.

Segundo Lilian Marques, fundadora e CEO da Front Row, uma parcela significativa da base de clientes já atua com mentalidade de investidor. “Temos casos em que a compradora nunca usou a peça. A aquisição é feita com foco exclusivo em valorização futura”, afirma. Ela destaca que 25% da clientela da empresa possui perfil de investimento e considera as bolsas Hermès como uma forma segura e sofisticada de alocação de capital. Em alguns casos, os lucros com revenda superaram os R$ 400 mil.

Além da valorização espontânea ligada ao prestígio e à raridade dos modelos, o cenário geopolítico também tem favorecido a ascensão das bolsas Hermès como ativos estratégicos. O reposicionamento tarifário nos Estados Unidos e a recente crise reputacional da LVMH impulsionaram ainda mais o prestígio da maison francesa, que se destaca por sua produção 100% artesanal e pela recusa histórica em terceirizar etapas de sua manufatura. Em 2025, a Hermès alcançou valor de mercado de € 249 bilhões, superando outros nomes tradicionais do luxo global.

Essa conjuntura ampliou a sensibilidade do consumidor para critérios como procedência, sustentabilidade e liquidez de revenda. A Hermès, com sua transparência na cadeia de valor e excelência reconhecida, emergiu como símbolo máximo dessa nova lógica de consumo, em que o luxo transcende a estética e assume papel de relevância econômica.

Fundada em 2017, a Front Row atua como uma ponte entre o desejo e o investimento. Com mais de 4 mil clientes no Brasil, a empresa se destaca por sua curadoria rigorosa, certificação de autenticidade e educação financeira voltada ao universo da moda de alto padrão. Para 2025, os planos envolvem parcerias estratégicas e aquisições que ampliem sua presença no mercado de resale de luxo.

Neste novo capítulo da economia do desejo, uma bolsa Hermès pode ser tão estratégica quanto uma ação na bolsa de valores, com a vantagem adicional de carregar consigo história, raridade e beleza.

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