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Charles Leclerc no Brasil: bastidores de sua passagem por Interlagos

Por: Gabriel Silveirado

Em um fim de semana movimentado em São Paulo, entre motores aquecidos, compromissos oficiais e a energia quase cinematográfica que antecede o Grande Prêmio do Brasil, encontramos Charles Leclerc em um raro momento de pausa. Elegante, reservado e cada vez mais consolidado como um ícone que transcende o cockpit, o piloto da Scuderia Ferrari conversou conosco sobre sua passagem pelo país, sua relação com Interlagos, a vida em Mônaco e os detalhes que moldam seu estilo dentro e fora das pistas. O resultado é uma conversa íntima, honesta e surpreendentemente humana, revelando um Leclerc que equilibra velocidade e sensibilidade, performance e estética, disciplina e prazer. Uma visão completa de um atleta que, mesmo no topo do automobilismo mundial, continua guiado por paixão, propósito e uma busca constante por autenticidade.

Charles, você acabou de pousar em São Paulo. Ainda sente um clima diferente quando corre no Brasil?
Sinto, sim. O Brasil tem uma energia muito própria. Em Interlagos a sensação é de anfiteatro, tudo muito perto, muito barulhento, quase elétrico. Para alguém que cresceu ouvindo histórias sobre Ayrton Senna, estar aqui nunca é só “mais uma corrida no calendário”, é sempre um pouco emocional. Mas, ao mesmo tempo, eu tento manter a cabeça igual a qualquer outro fim de semana, porque se você leva a emoção demais para o carro, acaba perdendo foco.

O que faz de Interlagos um circuito verdadeiramente único para um piloto de Fórmula 1?
Interlagos tem uma personalidade que você sente desde a primeira volta. As mudanças de relevo, o clima imprevisível, o traçado curto que não permite erros, tudo isso cria um ritmo quase musical, onde cada curva tem uma assinatura própria. Além disso, o público brasileiro transforma o ambiente. Você sente a vibração mesmo dentro do carro, e isso muda a forma como você vive o fim de semana. É um daqueles lugares que lembram por que amamos correr.

Quando você aterrissa em uma cidade como São Paulo, como é a sua rotina fora da pista, nas poucas horas livres?
Eu gosto de viver a cidade de um jeito discreto. Normalmente faço um treino leve, caminho um pouco para sentir o lugar e tento descobrir um restaurante bom de cozinha local ou japonesa, que é uma das minhas favoritas. Em São Paulo isso é fácil, a cena gastronômica é muito forte. E, se der tempo, gosto de um momento simples no hotel, com amigos ou equipe, sem câmeras.

Muito se fala sobre você ser um piloto extremamente focado. Fora das corridas, quem é o Charles no dia a dia?
Quando tiro o macacão, eu realmente volto a ser só “Charles”. Gosto de estar com a minha família, com meus amigos de infância e com o Leo, meu cachorro. Sou mais reservado, não preciso estar em todos os eventos, prefiro momentos mais íntimos. Talvez as pessoas esperem que o mundo da Fórmula 1 seja só festa e holofote, mas o que me recarrega é justamente o oposto, estar longe do barulho, de preferência perto do mar.

A música sempre aparece nas suas entrevistas. Como ela entra no seu lifestyle e na sua preparação como atleta?
A música é a minha forma de desligar. Eu toco piano desde criança e, mais tarde, comecei a tocar guitarra. Nos intervalos entre corridas, sentar ao piano e criar alguma coisa nova é quase uma meditação. Foi assim que nasceu até o meu single, que eu fiz basicamente como costumo fazer quando estou em casa, só que desta vez registrei e compartilhei. Eu não me vejo como músico profissional, mas é um espaço em que eu posso ser imperfeito, experimentar, sem pressão de performance.

A moda claramente se tornou uma parte importante do seu universo. O que ela significa para você?
A moda é um idioma silencioso. Tem um lado meu muito clássico, que busca conforto e linhas limpas, e outro que gosta de brincar com streetwear. Depende do humor do dia. Como em uma boa música, você escolhe o tom com que quer se apresentar ao mundo. Trabalhar com casas como a Armani me ensinou a respeitar o corte, o tecido, a história por trás de uma peça. E confesso que peço muita opinião da Alexandra, ela tem um olhar muito apurado que me inspira a arriscar um pouco mais.

Se você tivesse uma tarde livre totalmente fora do circuito paulistano, o que gostaria de fazer?
Acho que começaria com um almoço bem longo, talvez em um japonês ou em um lugar que misturasse cozinha latino-americana. Depois, adoraria conhecer melhor a arquitetura da cidade, visitar alguma galeria, observar o estilo das pessoas na rua. São Paulo parece ter essa mistura de elegância e caos que é muito fotogênica para quem gosta de moda e fotografia.

Você nasceu e cresceu em Mônaco. Como é a relação de um piloto com a Fórmula 1 vivendo em um dos lugares mais icônicos do automobilismo?
Viver em Mônaco é como crescer dentro do mito. Desde criança eu ouvia o som dos carros passando na janela, via os pilotos caminhando pelas ruas e achava tudo aquilo normal até entender que aquilo era absolutamente único. Mônaco me ensinou a amar o automobilismo antes mesmo de eu saber colocar isso em palavras. E correr ali hoje, no mesmo traçado que marcou gerações, é uma emoção difícil de explicar. É o meu lar, mas também é o centro de um mundo que eu sempre sonhei em fazer parte.

Sua imagem é muito ligada à elegância, mas você também é um atleta de alto rendimento. Como concilia disciplina e prazer na sua rotina?
A base é sempre disciplina: treino, alimentação, sono, tudo muito monitorado. Mas não acredito em uma vida em que você só diz não. Eu gosto de boa comida, de uma taça de vinho de vez em quando, de um gelato, tanto que acabei me envolvendo em um projeto de sorvetes mais leves que eu realmente consumo. A chave é equilíbrio. Se eu me cuido na maior parte do tempo, posso aproveitar pequenos prazeres sem culpa.

Nos bastidores, você também é empreendedor. Que lugar esses projetos ocupam no seu estilo de vida?
Eu tento investir apenas em coisas que têm ligação direta com a minha história ou com aquilo que eu amo. Seja kart, que é onde tudo começou, uma agência para organizar a minha agenda ou produtos ligados à alimentação, todos os projetos precisam fazer sentido para mim como pessoa, não só como piloto. Isso torna o trabalho fora da pista uma extensão natural da minha vida.

Você sempre foi muito crítico consigo mesmo. Como isso aparece no seu cotidiano?
Eu sempre fui muito exigente comigo, talvez até demais. No começo da carreira eu queria tudo imediatamente, focava muito mais nos erros do que no progresso. Com o tempo, aprendi a ser mais paciente e a aceitar que crescimento leva tempo. Hoje tento aplicar isso na vida inteira: se um fim de semana é difícil, eu permito que seja um dia ruim, não uma identidade. E procuro me cercar de pessoas que me dizem a verdade, não o que eu quero ouvir.

Quando pensa no futuro, para além da Fórmula 1, como imagina sua vida ideal?
Eu me vejo ainda muito próximo do automobilismo, talvez em projetos que apoiem jovens pilotos, mas também quero dar mais espaço às outras paixões. Imagino uma vida dividida entre a água e as cidades que eu amo, com tempo para compor, para desenhar, para construir um projeto de moda que tenha a minha personalidade, talvez algo ligado a streetwear sofisticado. E, acima de tudo, tempo de qualidade com minha família, amigos e com quem eu amo. No final, é isso que faz qualquer título valer a pena.

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