Por Luiza Rodas
Há lugares que visitamos e nos deixam boas lembranças. E há lugares que nos atravessam e nos transformam. Assim é o Château du Tremblay, um castelo do século XV localizado na região da Borgonha, na França, onde o tempo ganha outra densidade e a alma encontra espaço para florescer.
Emoldurado pelas montanhas suaves do Parc naturel régional du Morvan, entre campos verdejantes e o poético Canal du Nivernais, o castelo é um verdadeiro refúgio para quem busca beleza, silêncio, significado e autenticidade. Mas mais do que sua arquitetura medieval preservada e seus salões impressionantes, o que torna o Château tão especial é sua alma viva, sensível e aberta à criação.
Construído em meados de 1450, o castelo resistiu a guerras, revoluções e séculos de transformações, preservando sua estrutura original e seu caráter ancestral. Ao atravessar seus corredores de pedra, é impossível não sentir a presença da história, mas também o cuidado amoroso que o mantém vivo até hoje. Composto por duas grandes alas, o Keep e a Extensão, possui quatro andares, dezesseis quartos únicos, salas de estar elegantes, biblioteca acolhedora, jardins vastos e um horizonte que convida ao devaneio.
Mas o verdadeiro encanto está na forma como esse espaço é preenchido e oferecido ao mundo. Lua e Louis, os anfitriões do castelo, são os guardiões dessa experiência. Lua, dinamarquesa de alma artística e sensível, comanda com intuição e ternura a criação de experiências transformadoras. Louis, francês de raízes profundas, conhece cada pedra, cada história, cada centímetro da terra que herdou. Juntos, eles transformaram o castelo em um espaço vivo, afetivo e profundamente humano.
Mais do que um local de hospedagem ou turismo, o Château du Tremblay se abre como uma tela em branco para experiências personalizadas e significativas. Lua e Louis acolhem projetos com alma: retiros de bem-estar, workshops criativos, elopements intimistas, cerimônias místicas, sessões de fotos, filmagens, residências artísticas e vivências sensoriais. O espaço se molda ao sonho, e não o contrário.
Durante minha estadia, pude sentir esse acolhimento na pele. Os dias passavam em ritmo suave, com refeições deliciosas preparadas com ingredientes locais, caminhadas pelos campos, fogueiras sob as estrelas, conversas profundas, silêncios reveladores. À noite, os jantares à luz de velas nos transportavam para outros tempos, o brilho das chamas refletido nas taças de vinho, a música suave ao fundo, e o cheiro da terra úmida entrando pelas janelas. E quando a noite caía por completo, o jardim se transformava em observatório. Stargazing ali é uma experiência quase espiritual, longe de luzes urbanas, o céu se revela em sua magnitude poética, com constelações visíveis a olho nu e uma quietude que abraça.
A cada detalhe, Lua trazia beleza, cuidado e presença. Era como se tudo, desde a mesa posta até a playlist da manhã, fosse pensado para despertar algo em mim.
E claro, Fluffy, minha maltipoo caramelo, também viveu seu próprio retiro. Ela correu entre flores, dormiu ao pé da lareira, recebeu petiscos artesanais e foi mimada por todos. Ver minha pequena tão feliz e livre foi uma das maiores alegrias da viagem. No Château, até os animais são tratados com alma e respeito.
Chegar até lá é simples: cerca de 2h15 de carro saindo de Paris pelas belas estradas da A6. Ou então cerca de 3 horas de trem até a estação Cercy-La-Tour seguido de 10 minutos de carro. Mas a verdadeira viagem começa ao atravessar os portões do castelo. Porque ali, tudo convida à presença. À escuta. À criação. À pausa.
Partir é difícil. Mas o que se leva é eterno: o sentimento de ter vivido algo único, profundo, transformador. O Château du Tremblay não é apenas um lugar. É um espaço de possibilidades. Um portal. Uma casa para sonhos que ainda não tinham forma, e que ali encontram matéria.
Lua transmite com maestria o conceito de que “A beleza não precisa ser explicada. Mas sentida.” E nesse castelo encantado, eu senti exatamente isso.
