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Eli Iwasa revela os bastidores de uma trajetória que inspira a cena eletrônica brasileira

Eli Iwasa é hoje um dos nomes mais respeitados da música eletrônica brasileira, mas sua trajetória vai muito além das cabines de DJ. Empresária, curadora e figura essencial na consolidação de clubes e festivais, ela construiu uma carreira que une a paixão de quem veio da pista de dança à visão estratégica de quem já esteve em todos os bastidores possíveis.

De Campinas para o mundo, Eli transformou sonhos em realidade, levando sua música a palcos icônicos como Rock in Rio, DGTL e Tomorrowland, além de estrear em clubes lendários como o Bassiani. Em uma conversa exclusiva com o publisher Gabriel Silveirado, a artista revisita sua história, compartilha os bastidores de momentos decisivos, reflete sobre a força da cena eletrônica brasileira, fala sobre resistência cultural e revela os próximos passos de uma trajetória que segue conectando o Brasil ao mundo.

Início e trajetória

Como nasceu sua paixão pela música eletrônica e quando você decidiu que queria seguir carreira como DJ?
A música sempre foi minha paixão desde criança, comecei a colecionar discos muito cedo, de todo tipo de bandas obscuras de post-punk, gótico, synthpop. Em um aniversário, decidi celebrar em um club que estava super hypado, só se falava desse lugar e do DJ de lá: o club era o Massivo e o DJ era Mauro Borges. Desde esse dia, comecei a frequentar as noites de quinta e sábado e assim minha vida clubber começou.

Você se tornou um dos maiores nomes da música eletrônica brasileira. Em que momento percebeu que esse caminho seria sua vida?
Sempre soube que queria viver de música, mas quando era adolescente, pensei que teria uma banda de rock, ou trabalharia produzindo shows ou como jornalista de música. Me formei em Propaganda e Marketing na ESPM, motivada muito mais porque sabia que era muito importante para minha família. Como sempre falo, peguei o diploma e ele foi para a gaveta, de onde nunca mais saiu. Fiz minha primeira festa tão logo terminei a faculdade e nunca mais olhei para trás.

A experiência de empreender em clubes como o Caos, Gate 22 e Club 88 influenciou sua visão sobre a cultura eletrônica no Brasil?
Minha experiência sempre foi nos bastidores, seja organizando festas, fazendo bookings, até finalmente, cuidar de meus próprios clubes. O sucesso como DJ veio depois. Eu fiz de tudo, desde distribuir flyers na rua até fazer contratações internacionais, e isso me deu não só uma visão 360, mas um bom entendimento de como as coisas funcionam no mercado. Ainda assim, acho que o aspecto mais importante é que eu vim da pista de dança. Eu amo tudo isso apaixonadamente até hoje, muito mais do que ser apenas trabalho. Viver isso intensamente e de uma forma tão genuína é o que realmente me faz entender e sempre lembrar o que é importante nesta cultura.

Carreira e experiências marcantes

Quais foram os palcos ou festivais mais inesquecíveis da sua trajetória até agora?
Minha estreia no Rock In Rio em 2019 foi emocionante, porque levei meu pai para me ver tocar. Ele é descendente de japoneses, somos de uma família humilde e conservadora, e ele trabalhou muito para me proporcionar um pouco mais de conforto e acesso a uma boa educação. Acho que não entendia muito bem como poderia viver e me bancar como DJ, e mesmo assim me apoiou incondicionalmente. Quis compartilhar esse momento porque também era importante para ele.

Existe algum set que você considera um divisor de águas na sua carreira?
O set do festival DGTL em 2017. Além de ser um dos meus mais ouvidos, foi uma das grandes viradas de chave da minha carreira.

Quais foram os maiores desafios para se manter relevante em uma cena tão dinâmica?
Meu maior medo sempre foi me tornar uma daquelas pessoas que acham que o passado é melhor. Tenho uma curiosidade natural que me mantém longe desse lugar. Sou inspirada o tempo todo por talentos promissores, sinto empolgação com o novo. Fugir da zona de conforto é importante para se manter atualizada. Não sou saudosista, acredito que estamos vivendo um momento muito especial enquanto cena brasileira.

Turnês e presença global

Esta turnê passou por Ásia, Europa e Américas. Como foi a sensação de tocar em lugares tão distintos?
Foi um ano marcado por muitas estreias. Um dia eu estava na Arábia Saudita, no outro na Geórgia, e isso é um grande sonho realizado. Estréias podem ser desafiadoras, porque nem sempre sei o que move as pessoas em cada país, mas é aí que está a graça: ler a pista, provocar, testar, e ainda manter a minha identidade.

Entre tantos shows, algum momento te marcou de forma especial?
Tocar no Bassiani. No dia seguinte, chorei falando no telefone com minha manager de tão emocionante que foi. Estar ali parecia algo muito distante para uma artista do interior de São Paulo. Foi surreal.

Você participou do lendário podcast Beats in Space em Nova Iorque. Como foi essa experiência?
O Beats In Space sempre foi uma referência. Programas de rádio são interessantes porque dá para tocar de tudo, e quis mostrar produções de artistas brasileiros. O set acabou sendo escolhido pela Mixmag como um dos melhores de 2025 até agora, e isso foi muito especial.

Grandes festivais

O Tomorrowland Brasil é um dos momentos mais aguardados do ano. O que significa para você tocar nesse festival?
Tocar no Tomorrowland faz parte do bucket list de muitos DJs. É uma reafirmação como artista, ver seu trabalho reconhecido num festival dessa dimensão. Amo o fato de ser transmitido, de poder me conectar com pessoas do mundo todo e de estar imersa em uma entrega impecável.

Visão e impacto cultural

Muitas vezes você diz que ter um clube no Brasil é quase um ato político. Pode explicar?
Campinas é uma cidade tradicionalmente conservadora, e ainda existe muito preconceito em relação à música eletrônica. Não temos políticas públicas que apoiem clubs e eventos que promovam diversidade. Esses espaços são mais que lugares de música, são locais seguros, que dão visibilidade a artistas da comunidade LGBTQI+ e periférica. O Caos foi muito importante nesse sentido, embora tenha enfrentado resistência.

O que você aprendeu com as diferentes cenas locais que conheceu durante a turnê?
Cada cena é reflexo da cultura local. Tocar no Oriente Médio foi fascinante, porque pude levar um pouco da minha e ao mesmo tempo aprender sobre os costumes deles. O mais importante é o respeito, sem julgamentos.

Como a música eletrônica pode ser uma ponte entre culturas e instrumento de transformação social?
A música comunica sem palavras e conecta pessoas do mundo todo. Ela nasceu como voz das minorias e, mesmo tendo se tornado mainstream, ainda tem o poder de provocar discussões, se posicionar diante de abusos e desigualdades e movimentar comunidades em prol de mudanças.

Futuro e novidades

Sua gravadora Heels of Love nasceu em 2024. Quais são os próximos passos?
O próximo lançamento será um mini-álbum, o que é ousado para um selo jovem. Também já temos uma festa marcada no Nordeste, que será bem especial.

O que podemos esperar de você nos próximos meses?
Estou em estúdio com Mau Maioli para nosso próximo EP e também em uma collab com um dos meus produtores favoritos.

Que conselhos você daria para jovens DJs e produtores?
Não tenham pressa. Curtam cada conquista, pequena ou grande. Confie em seu trabalho e no que acredita, porque só você sabe o que é melhor para você.

Lifestyle, viagens e gastronomia

Você viaja o mundo a trabalho, mas como transforma essas viagens também em experiências pessoais?
Aproveito ao máximo cada viagem. Quero conhecer a cultura local, experimentar comidas típicas, aprender sobre a história do lugar. Isso enriquece não só como pessoa, mas também minha bagagem artística.

Quais destinos recentes te marcaram pela cultura e energia?
Estou apaixonada por Tbilisi, amo Istambul, e sempre me sinto em casa em Ibiza e Nova Iorque.

Quando está em turnê, ainda consegue reservar tempo para a gastronomia?
Sim, eu viajo para comer. Desenho roteiros de acordo com restaurantes que quero conhecer. Em Barcelona, por exemplo, gosto do Bar Brutal, do Cañete e descobri o Cruix, que tem um menu degustação maravilhoso.

Que dicas de viagem você deixaria para os fãs?
Sejam curiosos e interessados. É possível equilibrar clubbing e cultura, respeitar a história de cada lugar, aprender e viver experiências inesquecíveis. O mais valioso é colecionar memórias.

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