No Palais de Tokyo, em Paris, o perfumista francês Francis Kurkdjian redefine o conceito de exposição sensorial ao apresentar Perfume: Sculpture of the Invisible, uma imersão poética no universo do olfato. A mostra celebra seus 30 anos de carreira e revela, com elegância e ousadia, como o perfume pode dialogar com a música, o teatro, as artes visuais e até a gastronomia, tornando-se uma forma de arte total.

Reconhecido por criações icônicas para Dior, Jean Paul Gaultier e por sua própria maison, Kurkdjian propõe uma experiência que ultrapassa o ato de cheirar. A ideia da exposição nasceu do desejo de seu sócio, Marc Chaya, CEO da Maison Francis Kurkdjian, de celebrar a trajetória do perfumista. Fiel à sua natureza discreta, Kurkdjian preferiu que o protagonismo fosse dividido com os artistas e colaboradores que marcaram sua jornada. A curadoria de Jérôme Neutres dá forma a esse conceito ao reunir três décadas de experimentações olfativas, transformadas em um percurso de descobertas.
Entre as obras expostas estão criações que combinam memória e inovação. The Smell of Money, desenvolvida em 1999 para a artista Sophie Calle, traduz o aroma de uma nota de um dólar usada em um comentário sobre valor e efemeridade. A série Expanded Drops, de Christelle Boulé, transforma fragrâncias em imagens, ao aplicar gotas de perfumes sobre papel fotográfico, revelando abstrações vibrantes e coloridas. Em parceria com o artista Yann Thomas, Kurkdjian apresenta ainda L’Or Bleu, uma água perfumada que pode ser bebida, rompendo de vez as fronteiras entre o olfativo e o gustativo.

O visitante é convidado também a atravessar o tempo. Um par de luvas de couro perfumadas do século XVIII divide espaço com In the Wake of the Queen, fragrância criada em 2006 a partir da fórmula de um perfume usado por Maria Antonieta. As referências ao Palácio de Versalhes, onde o perfumista estudou e hoje patrocina o Jardim do Perfumista, reforçam o vínculo entre história e criação contemporânea.
Kurkdjian, no entanto, não se limita ao passado. Em V-Scent, o público veste um headset de realidade virtual equipado com um difusor de aromas. A instalação propõe uma nova forma de percepção, na qual imagem, som e cheiro se entrelaçam. Para o artista, essa fusão entre tecnologia e olfato é um passo essencial na evolução da perfumaria.

A exposição culmina em The Alchemy of the Senses, uma homenagem ao lendário Baccarat Rouge 540, talvez sua criação mais célebre. No centro da sala, uma escultura de cristal Baccarat é envolta por uma coreografia de luzes que evocam o fogo das fornalhas da cristaleria. A experiência é acompanhada por um chocolate criado pela chef Anne-Sophie Pic, ampliando o diálogo entre aroma, visão e paladar.
Com Perfume: Sculpture of the Invisible, Francis Kurkdjian reafirma o perfume como uma expressão artística completa, capaz de tocar todos os sentidos e de revelar o invisível que habita o ar. Ao deixar o Palais de Tokyo, o visitante leva mais do que uma lembrança olfativa, leva um novo olhar sobre o mundo, guiado pelo próprio nariz.
