Por Gabriel Silveirado
Com mais de duas décadas de trajetória e uma presença inconfundível nas pistas do Brasil e do mundo, Gabe é um dos nomes mais respeitados da música eletrônica nacional. DJ, produtor e criador de projetos icônicos como Wrecked Machines e Growling Machines, ele ajudou a moldar a história da cena eletrônica brasileira desde o final dos anos 1990. Com um som que evolui sem perder a essência, Gabe conquistou o raro equilíbrio entre a vanguarda e a permanência, transitando com naturalidade entre o techno, o progressive e o psytrance.
Ao longo dos anos, seu nome se tornou sinônimo de consistência e inovação. Das pistas underground às maiores arenas do planeta, Gabe construiu uma carreira baseada em autenticidade e entrega total à música. Projetos como Wrecked Machines, um dos pilares do psytrance brasileiro, e Growling Machines, duo que marcou uma geração, revelam seu talento em se reinventar sem se desconectar das raízes. Já sob seu próprio nome, ele elevou o nível da produção nacional, assinando faixas e remixes que cruzam fronteiras e inspiram novos artistas.
No Tomorrowland Brasil 2025, Gabe viveu um novo ponto alto dessa jornada ao se apresentar três vezes no mesmo festival, com três projetos diferentes, reafirmando sua versatilidade e influência na cena global. Entre a nostalgia dos clássicos e a energia do novo, ele mostrou que o tempo, para quem vive pela música, é apenas uma linha que se dobra a favor da criação.

A seguir, o artista fala sobre suas experiências no festival, as parcerias recentes, a importância de se reinventar e o que vem pela frente em uma carreira que continua a pulsar com força, emoção e propósito.
Como foi tocar no Crystal Garden e sentir a energia do público do Tomorrowland?
Foi uma experiência marcante. O Crystal Garden é um palco novo no Brasil, com uma estética e proposta incrível, e desde o primeiro minuto do set a energia foi diferente. Tocamos relativamente cedo, e mesmo assim a pista já estava completamente cheia, com a galera vibrando em cada virada.
Você foi o único artista brasileiro com três projetos no festival. O que essa marca representa pra você?
É um marco muito especial na minha trajetória. Tocar três vezes no Tomorrowland Brasil, com propostas musicais tão distintas, é algo que supera qualquer expectativa. É o tipo de feito que você imagina como um sonho distante e quando acontece, parece que você tá vivendo um filme. Representa não só os meus mais de 25 anos de dedicação à música, mas também a liberdade artística que conquistei ao longo dessa caminhada. Poder transitar entre estilos, projetos e públicos diferentes em um dos maiores festivais do mundo é a prova de que quando você se entrega de verdade ao que faz, as possibilidades se multiplicam. Foi um momento de celebração, de reconhecimento e, acima de tudo, de muita gratidão.
Foi sua primeira vez em B2B com o Roddy Lima. Como foi dividir o palco com ele?
Posso dizer que foi especial. A nossa conexão começou no estúdio de forma muito leve, e já ali percebi que a troca era verdadeira. Quando levamos isso pra pista, tudo fluiu de forma natural. Foi daqueles b2b que não precisam de ensaio, um olha, o outro entende, e o som vai fluindo. Foi a fusão de duas fases da cena, fizemos um set bem pesado. E pela reação da galera, acho que deu pra sentir isso forte.
Qual foi o momento mais especial do seu set com o Roddy Lima?
Sem dúvida, quando soltamos Tell Us. A música tem uma carga emocional pra gente, foi o ponto de partida dessa parceria, então quando tocamos ela no Crystal Garden, com a galera reagindo como se já conhecesse a track, foi o ponto alto do nosso set.

Você tem 25 anos de carreira e continua relevante. Qual o segredo dessa longevidade?
Acho que o principal segredo é nunca parar de aprender e estar sempre em busca de se renovar. Eu sempre estive aberto ao novo, seja com novos sons, novas formas de me expressar. E, ao mesmo tempo, mantive firme a minha identidade artística, aquilo que me move desde o começo. Outro ponto é a entrega. Eu levo a pista a sério. Estar ali, em conexão com o público, é o que alimenta tudo. Cada set é uma troca, e isso me motiva a continuar evoluindo. Também aprendi a respeitar o tempo das coisas e a não me acomodar. Se você ama o que faz de verdade, a relevância vem como consequência.
O projeto Gabe All Night Long rodou o país com noites esgotadas. Qual foi a mais inesquecível?
É difícil apontar uma data específica, porque o que me marcou de verdade foi o resultado da tour como um todo. Esse ano, a proposta foi apostar no universo dos clubs. Foi uma escolha ousada, mas que deu muito certo. A resposta do público foi absurda em cada cidade, e isso me deixou muito feliz. Já tô com a cabeça na próxima tour e a vontade é de ir ainda mais fundo nessa experiência.
O Wrecked Machines marcou a cena psytrance. Como é retornar com o projeto no Tomorrowland, no palco Morpho?
Foi uma emoção gigante. O Wrecked Machines tem um lugar muito especial na minha história, afinal foi onde tudo começou pra valer. Voltar com esse projeto no palco Morpho, que carrega a essência do psytrance dentro do Tomorrowland, foi simbólico e emocionante ao mesmo tempo. A energia da pista era intensa, cheia de gente que viveu aquela fase e também de uma nova geração que conhece o som e respeita o legado. Foi um set de resgate e de celebração. Me senti em casa, e com a sensação de que o tempo passou, mas a força da música continua viva.
Essa foi a estreia do Growling Machines no Tomorrowland. Como foi se apresentar com o projeto e a recepção do público?
Foi uma estreia poderosa. O Growling Machines é um projeto que tem uma energia própria, e levar isso pro Tomorrowland, com toda a estrutura e atenção que o festival dá ao detalhe, foi muito especial. A recepção da pista superou todas as expectativas. A galera embarcou no som do início ao fim, mesmo sendo um projeto novo pra muitos. Foi uma conexão intensa, uma estreia à altura do que a gente imaginava e daquelas que já deixam saudade no minuto seguinte.

Quais foram os momentos mais especiais nos sets do Wrecked e do Growling?
No set do Wrecked Machines, o mais especial foi poder fazer uma ponte entre o passado e o presente. Mesclei alguns clássicos do projeto com sons mais atuais, criando um set que respeita a história, mas olha pra frente. A resposta da pista foi muito boa, dava pra sentir a nostalgia no ar, mas ao mesmo tempo a galera estava completamente conectada com a proposta atual. Já no set do Growling Machines, os momentos mais intensos vieram quando soltamos os hits que marcaram uma geração. Faixas como Rounders e Enjoy The Silence trouxeram uma reação absurda. A pista veio forte, e foi impossível não se emocionar. Ver que aquelas músicas ainda vivem na memória coletiva e continuam pulsando com força é algo que não tem preço.
Se pudesse definir sua trajetória em uma palavra, qual seria?
Lendária. Tudo o que construí até aqui veio da entrega total à música, à pista, às conexões, às escolhas que fiz ao longo do caminho. Nunca foi sobre atalhos, foi sempre sobre estar presente de verdade em cada etapa. E é isso que me move até hoje.
Quais são as próximas novidades a caminho?
Tô muito animado com o que vem por aí. A tour de final de ano já está tomando forma com datas muito especiais, inclusive alguns retornos aguardados e pistas inéditas. Também já estamos a todo vapor no planejamento de 2026 pra continuar evoluindo e surpreendendo. É uma fase de muita inspiração e energia criativa. Uma coisa eu garanto: vem muita coisa boa pela frente.