Produzido entre 1990 e 2001, o Lamborghini Diablo representa uma das eras mais intensas e transformadoras da marca italiana. Sucessor direto do icônico Countach, ele carrega um nome que evoca perigo e sedução, mas sua verdadeira essência está em despertar o lado mais instintivo de quem assume o volante.
O Countach, lançado em 1974, era um carro de personalidade difícil. Entrar e sair exigia contorcionismo, a visibilidade era limitada e as manobras pediam coragem e técnica. Domá-lo fazia parte do prazer. O Diablo surgiu para contrariar essa lógica. Apesar do nome sugestivo, é um carro que convida o motorista a liberar seu próprio demônio interior. Equipado com um motor V-12 que o leva a mais de 320 km/h e acelera de 0 a 100 km/h em até 3,5 segundos, ele alia potência brutal a uma dirigibilidade surpreendentemente moderna, principalmente nas versões posteriores à aquisição da Lamborghini pela Audi, em 1998.

Para o investidor Giles Morse, proprietário de um exemplar de 1991, o Diablo oferece um equilíbrio raro entre emoção e racionalidade. Ele afirma que a experiência de dirigir um V-12 manual da Lamborghini é visceral e única, distinta até da sensação de um Ferrari. Segundo ele, os modelos estão “criminalmente subvalorizados”, com preços que não refletem sua relevância histórica nem seu potencial de valorização futura. Morse adquiriu seu carro por €220.000, cerca de US$ 257.800, e ressalta que é possível usá-lo regularmente sem perder valor.

Na visão de Alessandro Farmeschi, diretor da Polo Storico, divisão de clássicos e restauração da marca, o Diablo é “o novo garoto do pedaço”. Ele representa a continuidade da linguagem de design iniciada pelo Countach, com linhas inconfundíveis reconhecíveis à distância. Cada vez mais exemplares têm chegado aos ateliês da Lamborghini para restauração e certificação, impulsionados por uma nova geração de colecionadores que cresceram com pôsteres do carro nas paredes dos quartos nos anos 1990 e hoje estão em plena fase de alto poder aquisitivo.
Entre as versões mais desejadas está a SE30, lançada em 1993 para celebrar os 30 anos da Lamborghini. Com 523 cavalos e apenas 150 unidades produzidas, tornou-se um verdadeiro objeto de culto. O Diablo GT, de 1999, também vem se destacando entre os colecionadores mais atentos. Com 575 cavalos e apenas 80 unidades, recebeu melhorias significativas em freios, aerodinâmica e refrigeração, aproximando-se do universo das pistas e ganhando valor rapidamente no mercado internacional.

O comportamento dos preços reforça a percepção de que o Diablo está em ascensão. O raro Diablo 6.0 VT SE, limitado a 42 unidades, é cotado em cerca de £325.000, enquanto o VT Roadster teve uma escalada meteórica: de £125.000 em 2020 (cerca de US$ 170.100) para um pico de £800.000, estabilizando atualmente em torno de £450.000. Mesmo quem não comprou no auge pôde obter retornos expressivos, chegando a 260% em cinco anos.
Para Alan Greenfield, especialista da Bonhams, o potencial de valorização do Diablo é claro. Ele aponta que modelos como o SE30, hoje negociados entre US$ 700.000 e US$ 900.000, podem atingir valores entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões nos próximos três a cinco anos. Bem conservado, o Diablo representa não apenas uma peça-chave na história da Lamborghini, mas também uma oportunidade estratégica para colecionadores atentos.

O Diablo é um símbolo de transição. Carrega a aura selvagem da Lamborghini clássica e antecipa o refinamento que viria com a era Audi. Três décadas após sua estreia, sua presença ainda provoca reações de espanto e desejo, tal como o Countach fez no passado. A diferença é que, desta vez, os colecionadores mais visionários estão começando a perceber que o verdadeiro demônio pode estar adormecido no próprio mercado.