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Miami Art Week recebe instalação que investiga a linguagem das plantas com collab exclusiva da ⁠Perrier-Jouët

A história da Maison Perrier-Jouët sempre esteve intrinsecamente ligada ao mundo botânico. Fundada em 1811 por Pierre-Nicolas Perrier e Rose-Adélaïde Jouët, a casa nasceu de uma sensibilidade rara, unindo o amor pela natureza ao refinamento artístico que moldaria seu estilo por gerações. Pierre-Nicolas e seu filho Charles eram reconhecidos por seus estudos em botânica e horticultura, disciplinas que influenciaram de forma decisiva a forma como cultivavam as videiras e observaram o ecossistema que as rodeava. Décadas mais tarde, essa mesma conexão inspirou Émile Gallé, um dos grandes nomes do Art Nouveau, a decorar uma magnum da Maison com anêmonas-brancas-japonesas, flores que se tornariam o símbolo visual da marca e de sua relação simbiótica com o mundo natural.

Entre os artistas contemporâneos que compartilham essa afinidade com a botânica, o designer polonês Marcin Rusak ocupa um lugar singular. Filho e neto de cultivadores de flores, ele transformou sua herança familiar em linguagem de trabalho, criando peças que exploram a matéria vegetal como elemento vivo, estético e conceitual. No seu Studio em Varsóvia, flores descartadas, plantas em decomposição e materiais orgânicos ganham novas formas por meio de processos experimentais que combinam artes visuais, design e pesquisa. A natureza não é apenas inspiração; é estrutura, memória e conteúdo.

Quando visitou os vinhedos da Maison Perrier-Jouët em Epernay, Rusak identificou afinidades imediatas entre sua prática e o tempo paciente exigido pela criação do champagne. A observação minuciosa, o respeito aos ciclos naturais e o cuidado técnico se alinham profundamente à forma como o artista desenvolve novos materiais e recria ambientes botânicos em suas obras. Essa aproximação resultou em um diálogo criativo que, desde o início, ultrapassa o campo estético para mergulhar em questões mais amplas sobre a interdependência entre espécies e sobre o papel humano na preservação dos ecossistemas.

A Maison Perrier-Jouët mantém, desde 2012, um programa contínuo de colaborações que explora a relação entre arte, ciência e natureza. Nos últimos anos, esse programa evoluiu para projetos com uma dimensão prospectiva, nos quais pesquisa, experimentação e pensamento multidisciplinar se tornam ferramentas essenciais para imaginar novas respostas aos desafios ambientais. O objetivo não é apresentar soluções definitivas, mas estimular a reflexão coletiva. Filósofos, botânicos, ecoacusticistas, poetas, designers e chefs formam a comunidade de talentos que dialoga com a Maison e enriquece suas iniciativas.

Foi nesse contexto que nasceu Plant Pulses, o projeto imersivo apresentado durante a Miami Art Week. A obra teve início em 2024, quando Rusak encontrou especialistas em biodiversidade nos vinhedos da Maison e mergulhou no estudo das axiophytas, plantas fundamentais para o equilíbrio ecológico da região. Entre várias espécies, três se tornaram protagonistas de sua investigação: a videira, capaz de registrar memórias do ambiente; a aristolochia europeia, cuja aparição sinaliza o fortalecimento da biodiversidade; e o trevo branco, que protege o solo e alimenta polinizadores durante grande parte do ano.

Durante sua pesquisa, o artista conheceu trabalhos inovadores dos pesquisadores Bartek Chojnacki e Klara Chojnacka, da Universidade AGH, que estudam sinais ultrassônicos emitidos por plantas sob estresse hídrico. Esses sons, inaudíveis ao ouvido humano, foram traduzidos em frequência compreensível, revelando camadas inéditas de comunicação vegetal. Rusak incorporou esses registros à paisagem sonora de Plant Pulses, transformando dados científicos em experiência sensorial.

No Studio em Varsóvia, ele criou uma escultura monumental que preserva elementos naturais coletados nos vinhedos da Maison, como plantas heroínas, amostras de solo calcário e videiras no fim de seu ciclo. Esses fragmentos foram encapsulados em uma resina sintética desenvolvida pelo próprio artista, um material capaz de interromper a decomposição e prolongar a vida da matéria botânica. A obra funciona como um herbário contemporâneo e como cápsula do tempo, convidando o público a refletir sobre memória, fragilidade e transformação.

A instalação se desdobra em som, imagem e matéria. A partir dos sinais das plantas, Rusak e um designer de som criaram uma composição minimalista que reproduz três estados fisiológicos: desidratação, comunicação e reidratação. O visitante percorre o espaço como quem atravessa um organismo vivo, guiado por uma espiral acústica que simboliza o ciclo contínuo da natureza. Paralelamente, uma linguagem visual inédita foi desenvolvida por meio de experimentação digital. Linhas minimalistas evoluem para formas orgânicas que lembram bolhas, acompanhando a respiração sonora da instalação. Assentos impressos em 3D, decorados com plantas coletadas em Epernay, oferecem ao público a possibilidade de observar a obra no tempo necessário, respeitando o ritmo do próprio projeto.

Além da instalação, Rusak criou duas edições limitadas para Perrier-Jouët Belle Epoque 2016 e Perrier-Jouët Blanc de Blancs, apresentadas no bar de champagne da Maison durante a Miami Art Week. Os rótulos reinterpretam o formato de um herbário e unem a cartografia sensorial dos champagnes às plantas heroínas estudadas pelo artista. O resultado é uma leitura poética do terroir, que propõe ao público um novo modo de perceber a relação entre natureza, sabor e memória.

A pesquisa que inspirou Plant Pulses tem desdobramentos promissores no campo da viticultura. A interpretação dos sinais ultrassônicos das plantas poderá, futuramente, orientar a gestão hídrica e o monitoramento de saúde dos vinhedos. A Maison Perrier-Jouët já avalia a continuidade desses experimentos em condições reais, alinhando-os ao programa de viticultura regenerativa que vem sendo implementado desde 2021. Os vinhedos experimentais, que atualmente somam 28 hectares, deverão abranger toda a propriedade até 2030.

Marcin Rusak, nascido em Varsóvia em 1987, estudou na Design Academy Eindhoven e no Royal College of Art, em Londres. Sua obra já foi exibida em instituições internacionais e reconhecida por prêmios importantes, como o Arts Salon Prize da Perrier-Jouët em 2015 e o EDIDA Elle Decoration Young Designer of the Year em 2022. Em 2024, integrou novamente a lista AD100, consolidando-se como uma das vozes mais influentes da criação contemporânea. Sua prática dialoga com o espírito do Art Nouveau ao reinterpretar a natureza por meio de novas materialidades e processos experimentais, como visto em exposições recentes no Victor Horta Museum, na BIO Ljubljana e na Alcova.

Plant Pulses amplia esse percurso ao transformar ciência, arte e botânica em experiência sensorial e reflexiva. Ao iluminar o que o olhar humano não alcança, o artista propõe uma nova forma de escutar o mundo natural e repensar nosso lugar dentro dele, reforçando a convicção de que o futuro da criação, da viticultura e da preservação ambiental dependerá de observação profunda, sensibilidade e colaboração multidisciplinar.

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