O que antes era visto como paranoia de teóricos da conspiração ou hobby de sobrevivencialistas extremos agora se transforma em um novo capítulo do luxo contemporâneo. Os bunkers, outrora frios depósitos de emergência cheios de enlatados, estão sendo redesenhados como verdadeiros refúgios privativos por uma elite global que deseja mais do que proteção: quer conforto absoluto, exclusividade e controle total, mesmo diante do imprevisível.
Discretamente enterrados sob mansões em Beverly Hills, ranchos em Montana ou propriedades à beira-mar no Havaí, esses abrigos de última geração abrem caminho para uma nova forma de habitar o futuro. Equipados com cozinhas gourmet, salas de cinema, galerias climatizadas, hortas hidropônicas, spas, pistas de boliche e até réplicas subterrâneas de circuitos de Fórmula 1, os bunkers são projetados não apenas para resistir ao caos, mas para celebrá-lo com opulência.

Segundo Chad Carroll, especialista do grupo Compass, os clientes de alto patrimônio estão adotando uma visão estratégica sobre segurança e bem-estar. A busca por esses abrigos de alto padrão não se restringe mais a fanáticos por teorias do colapso; inclui executivos, celebridades e investidores globais atentos a riscos geopolíticos, instabilidades econômicas e até ameaças de superinteligência artificial. Para eles, proteção e estilo não são mutuamente exclusivos.
Na linha de frente dessa tendência está a empresa SAFE (Strategically Armored & Fortified Environments), liderada por Naomi Corbi, que transforma o conceito de abrigo em uma experiência profundamente personalizada. O design de cada bunker é uma extensão da identidade de seu proprietário. Um colecionador de arte encomendou uma galeria subterrânea com certificação contra ataques nucleares, biológicos e tecnológicos. Um golfista profissional incorporou um simulador que replica os 50 melhores campos do mundo, acompanhado de um green com especificações oficiais. Há ainda quem solicite crematórios internos, oficinas de precisão, estúdios criativos ou cinemas para estreias privadas.

Bill Rigdon, fundador da Panic Room Builders, conta que sua empresa evoluiu de abrigos religiosos para mórmons a complexos subterrâneos de engenharia sofisticada, com passagens secretas, elevadores disfarçados e portas blindadas importadas da Suíça. Em alguns casos, os bunkers funcionam também como casas de hóspedes ou retiros de fim de semana em meio à natureza, mantendo a estética impecável mesmo diante de sua função defensiva.
Projetos desse tipo raramente são divulgados publicamente. Muitas vezes, nem mesmo aparecem nas descrições oficiais de imóveis. A negociação acontece em confidência, entre agentes e compradores altamente seletos. A valorização desse tipo de espaço é tamanha que, em algumas cidades como Los Angeles, a presença de uma sala de pânico pode decidir a venda de uma propriedade.

A sofisticação não está apenas no mobiliário ou nos acabamentos, mas na tecnologia embarcada. Sistemas avançados de filtragem de ar, estruturas com isolamento contra radiação e recursos de autossuficiência hídrica e energética fazem parte do pacote. Há casos em que o abrigo inteiro opera fora da rede pública, oferecendo autonomia total em situações de emergência.
Mais recentemente, algumas empresas têm apostado na ideia de “testar antes de precisar”. A Panic Room Builders, por exemplo, projeta um complexo subterrâneo sob um hotel de luxo em Beverly Hills onde hóspedes poderão viver temporariamente a experiência de um bunker de alto padrão antes de adquirir sua própria unidade, cada uma avaliada em mais de um milhão de dólares.
Na lógica do novo luxo, paz de espírito se tornou a moeda mais desejada. E, para alguns, essa paz só é possível quando se está a dezenas de metros abaixo do solo, cercado por mármore italiano, arte contemporânea e uma adega climatizada. Porque em um mundo cada vez mais imprevisível, o verdadeiro privilégio pode ser simplesmente ter para onde escapar, e fazê-lo com elegância.