Entre palcos monumentais, pirotecnia sincronizada e uma produção que beira o irreal, o Tomorrowland Brasil 2025 se consolidou como um marco da música eletrônica mundial, e também da nova fase da cena brasileira. Foram três dias de celebração no Parque Maeda, em Itu (SP), onde mais de 180 mil pessoas de diferentes países se reuniram para viver uma experiência que ultrapassa o conceito de festival.
Sob o tema “The Spirit of Life”, a edição deste ano apresentou um line-up plural, com gigantes internacionais como Charlotte de Witte, Martin Garrix, Tale of Us, Amelie Lens, CamelPhat, Meduza e Vintage Culture, ao lado de uma constelação de talentos brasileiros que ocuparam os palcos com a mesma potência e relevância.
E foi entre lasers, batidas e momentos de pura catarse coletiva que o Brasil mostrou por que hoje é uma das forças criativas mais respeitadas da música eletrônica global. Conversamos com quatro nomes que representam, cada um a seu modo, esse novo patamar artístico: Gabe, Eli Iwasa, Fatsync e Carol Seubert. Todos eles protagonizaram apresentações que uniram emoção, técnica e personalidade, um retrato fiel da maturidade sonora que o país alcançou.
GABE: O veterano que se reinventa em três atos
Poucos artistas simbolizam tão bem a trajetória da música eletrônica brasileira quanto Gabe. Com mais de 25 anos de carreira, ele foi o único artista nacional a se apresentar três vezes no Tomorrowland Brasil 2025, com seus projetos Gabe, Wrecked Machines e Growling Machines, um feito inédito que resume a versatilidade de um artista que se recusa a ficar em uma única forma.
“Tocar três vezes no Tomorrowland Brasil, com propostas musicais tão distintas, é algo que supera qualquer expectativa”, diz. “Representa não só a minha trajetória, mas a liberdade artística que conquistei ao longo dos anos.”

No Crystal Garden, Gabe dividiu o palco pela primeira vez com Roddy Lima, em um B2B intenso e espontâneo. “A nossa conexão começou no estúdio, de forma muito leve, e quando levamos isso pra pista, tudo fluiu naturalmente. Foi um daqueles sets em que um olha pro outro e já sabe pra onde o som precisa ir.”
O ápice veio com Tell Us, faixa lançada pela Catch & Release, selo de Fisher. “Tocar essa música foi simbólico. Ela tem uma carga emocional muito grande pra gente. Quando soltamos no palco, a galera reagiu como se já conhecesse. Foi mágico.”
Além da performance no Crystal Garden, Gabe reviveu a energia psicodélica que marcou sua carreira com o retorno do Wrecked Machines ao palco Morpho, dedicado ao psytrance. “Foi uma emoção gigante. Era como fazer uma ponte entre o passado e o presente. Toquei clássicos do projeto, mas também sons atuais, e ver a pista conectada com tudo foi indescritível.”

O Growling Machines estreou no festival com a força de um novo capítulo. “A energia da pista superou todas as expectativas. Tocamos faixas que marcaram uma geração, como Rounders e Enjoy The Silence, e ver o público reagindo com tanta intensidade foi um lembrete do porquê fazemos música.”
Ao refletir sobre o segredo de sua longevidade, Gabe resume: “É nunca parar de aprender. Eu me mantenho curioso, aberto ao novo, mas sem perder a essência. O palco é o meu laboratório. E enquanto houver pista, haverá vontade de me reinventar.”
FATSYNC: A energia e a emoção de uma nova geração
Carismático, intenso e autêntico, Fatsync é a tradução da nova geração que está moldando a identidade contemporânea da música eletrônica brasileira. Pela segunda vez consecutiva, ele foi escalado para o Tomorrowland Brasil, dessa vez com dois shows, um solo e outro ao lado de Malifoo, no Crystal Garden.
“Voltar pela segunda vez foi muito especial. O festival raramente repete artistas novos, então esse convite representa o reconhecimento do trabalho, da entrega e da constância”, conta.

A parceria com Malifoo, que começou no Rock in Rio 2024, ganhou ainda mais força no Tomorrowland. “A gente já tinha uma química natural. Fizemos um set cheio de novidades, sons inéditos e muita energia. A resposta da pista foi absurda.”
Um dos momentos mais intensos veio no encerramento: “Estávamos tocando Walking on a Dream do Empire of the Sun, e eu tirei os óculos e olhei pra pista. Vi minha história inteira passando, os clubs pequenos, as noites em claro, as tentativas, os erros e acertos. Foi a primeira vez que senti algo tão forte.”
Fatsync também falou sobre a rápida ascensão que o levou de clubes underground aos maiores palcos do país. “É assustador, confesso, mas muito gratificante. Tudo aconteceu rápido, mas veio depois de anos de batalha. O projeto está só começando, e 2026 vai ser um ano intenso de lançamentos.”

Com milhões de streams e uma base de fãs fervorosa, a chamada Fat Gang, ele reflete sobre essa comunidade. “Eles são tudo pra mim. Cada show, cada mensagem… tudo o que faço é pra eles. A energia que eles me devolvem é o que me move.”
Encerrando a conversa, Fatsync resume com simplicidade: “Tocar na Tomorrowland me faz sentir completo. É o tipo de momento que te lembra por que a gente escolheu esse caminho. Inexplicável.”
ELI IWASA: Elegância, entrega e legado no Freedom Stage
Ícone absoluto da cena eletrônica nacional, Eli Iwasa voltou ao Tomorrowland Brasil em uma das fases mais brilhantes de sua carreira. Dona de uma trajetória que une sensibilidade e firmeza, ela subiu ao palco Freedom para um set que uniu groove, técnica e emoção em doses precisas.
“Voltar a um festival da importância do Tomorrowland é ainda mais especial que a estreia. É um momento de reafirmação, de reconhecimento, e também de autodesafio. As expectativas são maiores, e a vontade de entregar algo memorável também”, conta.

O Freedom Stage, com sua estrutura imersiva e visual cinematográfico, foi o cenário perfeito para sua apresentação. “Achei que fosse chorar no começo do set”, confessa. “Toquei relativamente cedo e achei que a pista estaria vazia, mas em poucos minutos estava lotada. Foi uma sensação indescritível.”
O ponto alto veio quando ela tocou Flash, clássico do produtor americano Green Velvet. “Sempre quis tocar essa música em um grande evento, e a reação foi imediata. A pista explodiu. Foi o tipo de momento que você sente que tudo se alinha.”
Além do festival, Eli vive um momento internacional intenso. Depois de passar por Dubai, Egito, Geórgia, Los Angeles e México, ela descreve a turnê como uma das mais marcantes da vida. “Foi a minha favorita até agora. Tocar no Bassiani, em Tbilisi, foi um privilégio. Estar no mesmo lugar que tantos artistas que admiro me fez lembrar o quanto a música é uma linguagem universal.”

Ao olhar para tudo o que construiu, ela se emociona: “O que mais me toca é o senso de legado. Ver a nova geração construindo seu caminho e saber que, de alguma forma, participei dessa história. Se pudesse definir esse momento em uma palavra, seria realização.”
CAROL SEUBERT: Quando o sonho encontra o palco do Meduza
Entre os momentos mais comentados do Tomorrowland Brasil 2025, um deles teve a emoção como protagonista. A DJ e produtora Carol Seubert viveu uma virada na carreira ao subir ao palco do trio Meduza, um dos nomes mais aclamados da cena mundial, para celebrar o sucesso da faixa My Computer.
“Eu já vinha construindo uma relação com o Meduza há algum tempo”, conta. “Eles já tinham baixado algumas faixas minhas, inclusive a My Computer. Na semana do festival, ele me mandou mensagem no direct perguntando se eu estaria lá. Consegui me credenciar de última hora e, pra minha surpresa, ele me convidou pra subir ao palco.”

O resultado foi um dos instantes mais emocionantes do festival. “My Computer foi a segunda música do set deles. Quando começou a tocar e ele me chamou pro palco, eu travei por um segundo. A pista vibrou. Foi mágico, uma mistura de choque, orgulho e gratidão.”
Para Carol, o convite representou mais que um reconhecimento artístico, foi uma virada de chave pessoal. “Foi um marco. Um momento que me fez entender o quanto a dedicação vale a pena. É uma sensação de pertencimento dentro de uma cena que sempre admirei.”

Hoje, ela segue fortalecendo sua presença como produtora e se consolidando como uma das novas vozes femininas mais promissoras da música eletrônica nacional. “Essa experiência me deu ainda mais coragem pra seguir criando, acreditando e representando o Brasil com autenticidade.”
O Brasil no coração do Tomorrowland
O Tomorrowland Brasil 2025 não foi apenas um festival, mas um retrato da nova era da música eletrônica nacional, uma cena madura, plural e em plena expansão internacional. Gabe, com sua trajetória lendária e constante reinvenção; Eli Iwasa, com sua elegância e legado; Fatsync, com sua energia vibrante; e Carol Seubert, com sua sensibilidade e talento emergente, representam diferentes gerações que hoje caminham lado a lado em um mesmo propósito: elevar o som brasileiro ao topo do mundo.