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Toyota quer colocar o Japão no mapa do ultraluxo automotivo

No Japão, a elegância costuma se expressar em gestos discretos, no valor do silêncio e na reverência ao tempo. É a partir desse mesmo espírito que nasce o novo capítulo da Toyota: a transformação do lendário Century em uma marca de ultraluxo capaz de disputar espaço com nomes tão intocáveis quanto Rolls-Royce e Bentley. Mais do que um movimento de mercado, trata-se de uma declaração de orgulho nacional, e um retorno da confiança de uma nação que busca reafirmar sua identidade diante do mundo.

Apresentada no Japan Mobility Show, a Century surge como o ápice da engenharia e da tradição da maior montadora do planeta. Akio Toyoda, presidente da Toyota, descreveu o projeto com emoção rara: “Queremos que o Century leve o espírito do Japão ao mundo.” O anúncio marcou um divisor de águas. Depois de décadas consolidando a Lexus como símbolo do luxo contemporâneo, a Toyota agora mira o território mais sagrado da indústria automotiva: o dos carros que não apenas se dirigem, mas são conduzidos, literalmente.

O novo Century estreia com dois pilares. O primeiro é um SUV híbrido plug-in de 406 cavalos de potência, já disponível no Japão e na China. O segundo, ainda envolto em mistério, é um cupê que promete rivalizar diretamente com o Bentley Continental. O que os diferencia não é apenas o requinte técnico, mas uma filosofia de luxo que desafia o Ocidente: na visão japonesa, o verdadeiro privilégio não está em dirigir, mas em ser conduzido. O próprio conceito do Century foi definido como “um veículo feito para o chofer”, uma categoria que reinterpreta a experiência de exclusividade.

A história do modelo remonta a mais de meio século. Criado originalmente para uso imperial, o Century sempre foi uma vitrine da capacidade artesanal da Toyota. Desde os primeiros experimentos híbridos na década de 1970 até a segunda geração lançada em 1997, o automóvel representou a essência do monozukuri, o saber-fazer japonês que une precisão técnica, paciência e perfeição estética. Poucas unidades chegaram a ser exportadas, mas o simbolismo bastou: o Japão tinha um rival à altura dos ícones britânicos.

Agora, em um momento em que o país busca recuperar a vitalidade perdida após as chamadas Décadas Perdidas, o renascimento do Century carrega mais do que ambição comercial. É um gesto de reconstrução cultural. Akio Toyoda evocou o legado de Kenya Nakamura, criador do Toyota Crown e do primeiro Century, lembrando que o Japão nunca começou “do zero”, mesmo após a guerra. Havia, e ainda há, uma força silenciosa que sustenta sua capacidade de reerguer-se.

Com a nova marca Century, a Toyota reafirma que luxo não é apenas opulência, mas herança, tempo e propósito. A elegância japonesa encontra aqui sua tradução automotiva definitiva, uma celebração do passado e um convite ao futuro, onde o verdadeiro poder não está em acelerar, mas em seguir em silêncio.

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