No penúltimo dia da SPFW N60, o estilista cearense David Lee apresentou uma coleção que traduz sua trajetória em forma de roupa. Inspirado por suas origens e pela simbologia das artes marciais, ele transformou memórias pessoais em expressão estética, construindo um desfile que une força e delicadeza, técnica e emoção.


Filho de um faixa preta e batizado em homenagem a Bruce Lee, David carrega no próprio nome a fusão de culturas que também define seu trabalho. As referências orientais aparecem nas silhuetas amplas, nas amarrações e nos quimonos reinterpretados, compondo uma alfaiataria de espírito esportivo e urbano. A coleção resgata a disciplina e a fluidez do movimento das lutas, convertendo-as em linguagem de moda.


Reconhecido por sua pesquisa em crochê, produzida por quatro artesãs de sua terra natal, o estilista amplia o repertório nesta temporada ao incorporar a renda richelieu, técnica tradicional do Ceará. A partir de toalhas de mesa antigas, ele criou parkas e jaquetas esportivas que reconfiguram o significado do artesanal, provando que a herança doméstica pode dialogar com a estética contemporânea. Cada peça carrega um gesto de transformação, convertendo o comum em sofisticado.


As técnicas manuais continuam sendo o alicerce do trabalho de David, mas aparecem agora em novas composições. Os volumes e desenhos foram criados separadamente e depois reunidos, gerando um efeito tridimensional que confere dinamismo às roupas. As camisas e casacos de alfaiataria em renda richelieu se destacam como ponto alto da coleção, revelando a maturidade de um criador que domina a tradição e a reinventa com leveza.


Fora das passarelas, o estilista amplia sua influência com projetos que reforçam seu vínculo com a cultura e a educação. Após atuar como embaixador da Escola de Moda da Juventude, assinou os uniformes da Pinacoteca do Ceará e prepara agora os do Museu da Imagem e do Som. São iniciativas que expandem sua pesquisa sobre o vestir como linguagem e identidade coletiva.


A nova coleção de David Lee reafirma a potência do olhar regional como força criativa global. Entre quimonos e rendas, nylon e crochê, o estilista constrói um diálogo entre herança e modernidade, onde o corpo veste não apenas tecidos, mas histórias e o nome que as une.