A Dendezeiro voltou à passarela da 60ª edição da São Paulo Fashion Week com um espetáculo que ultrapassou a moda. “Brasiliano 3: Lei da Vadiagem” encerrou a trilogia que redefiniu a presença da marca baiana no cenário contemporâneo, levando o funk e o corpo periférico ao centro da cena. O desfile, realizado no Parque Ibirapuera, reuniu nomes da moda, da música e das artes, entre eles Mc Cabelinho, Mc Carol, Urias e Jorge Conjota, num ambiente vibrante embalado por DJs ao vivo.
A coleção é um grito de sobrevivência transformado em estética. Inspirada na “Lei da Vadiagem”, usada historicamente para criminalizar corpos negros e dissidentes, a Dendezeiro devolve dignidade ao que foi marginalizado. O funk, símbolo de resistência e autoexpressão, tornou-se trilha e alma do desfile. Alfaiataria e streetwear se encontraram num mesmo compasso, provando que a moda pode ser também gesto político e celebração.
“Encerrar a trilogia com ‘Lei da Vadiagem’ é devolver potência e orgulho a quem foi silenciado. A passarela vira baile porque existir é político”, afirmou Hisan Silva, CEO e diretor criativo da marca. Pedro Batalha, também CEO e diretor criativo, completou: “O futuro da moda brasileira nasce da coragem de olhar para o próprio território. Nossa contribuição é mostrar que o Brasil é direção”.
O artesanato, pilar recorrente no trabalho da Dendezeiro, apareceu em novas bolsas de miçangas criadas em parceria com o Ateliê Masanga, reafirmando o fazer manual como ato de resistência cultural. A força colaborativa da marca também se refletiu nos apoios de Jordan, Magnum e Kenner. Um dos momentos mais marcantes foi o lançamento mundial de um tênis inédito da Jordan, apresentado pela primeira vez na passarela da grife baiana, um gesto simbólico que uniu a moda brasileira à cultura global.
A Kenner, parceira recorrente da Dendezeiro, apresentou edições especiais de suas sandálias Raytek e Megah Puffer, personalizadas com o lettering “Brasil do Brasil”. Segundo Laura Leal, CMO da marca, “a Kenner entende a moda como palco de autenticidade e pertencimento, princípios que estão no cerne do nosso trabalho”.
Após o desfile, o Baile Essencial coroou a noite como after oficial no SPFW. O evento, que já havia passado por Salvador e Rio de Janeiro, levou para São Paulo uma celebração que uniu música, moda e ocupação urbana, com show das rappers Tasha & Tracie e curadoria especial da Kenner Convida. Mais do que uma festa, o baile é a extensão viva da passarela, um manifesto que dança, vibra e resiste.
A trilogia “Brasiliano” consolidou a Dendezeiro como uma das narradoras mais potentes da moda brasileira. “Filhos do Sol” exaltou o sertão nordestino, “A Puxada pro Norte” celebrou a Amazônia e a revolta da Cabanagem, enquanto “Lei da Vadiagem” volta o olhar às periferias do Sudeste, transformando o corpo e o baile em símbolos de liberdade.
Da Bahia para o mundo, a Dendezeiro reafirma sua vocação como movimento cultural. Entre alfaiataria e batidão, tradição e vanguarda, sua moda pulsa como o próprio Brasil diversa, indomável e em permanente reinvenção.
