A elegância maximalista e a ousadia visionária de Gianni Versace ganham novo fôlego em Londres. Desde 16 de julho, o Arches London Bridge abriga uma das exposições de moda mais ambiciosas já apresentadas no Reino Unido. Em cartaz até março de 2026, a retrospectiva celebra o legado de um dos estilistas mais icônicos do século XX e oferece uma imersão sensorial na estética exuberante, provocativa e profundamente teatral que definiu uma era.
Instalada sob cinco arcos ferroviários vitorianos que oferecem um contraste dramático com o brilho das criações expostas, a mostra revela mais de 450 peças originais, entre roupas vintage, acessórios, croquis pessoais, fotografias e entrevistas. Trata-se da maior reunião pública de criações de Gianni Versace já apresentada em solo britânico. O impacto visual é imediato e poderoso. Cada sala da exposição convida o visitante a mergulhar no universo de Versace, não apenas como estilista, mas como arquiteto de imagens, de desejos e de narrativas.

Entre os destaques estão peças memoráveis usadas por figuras que ajudaram a eternizar sua estética, como Diana, Princesa de Gales, Naomi Campbell, Kate Moss, Liz Hurley, George Michael, Anna Wintour e Elton John, este último proprietário de uma das maiores coleções de camisas de seda criadas por Versace. Um dos momentos mais emblemáticos da mostra é a aparição do famoso vestido preto com alfinetes dourados usado por Hurley na estreia do filme “Quatro Casamentos e um Funeral” em 1994, peça que marcou indelevelmente a relação entre moda e celebridade nos anos 1990.

Mas a retrospectiva vai além da celebração dos grandes momentos. Ela também mergulha nas camadas mais profundas da obra de Versace, destacando coleções que desafiaram convenções estéticas e sociais. A coleção “Pop” de 1991, desenvolvida em colaboração com a Fundação Andy Warhol, uniu o refinamento da alta-costura ao grafismo da cultura pop em um gesto que desafiava o elitismo da moda. Já a coleção “Miss S&M” de 1992, marcada por couro, tiras, fivelas e referências ao universo do bondage, provocou reações extremas na época ao abordar a sexualidade feminina sob um novo olhar de poder e autonomia.
O percurso da mostra é dividido em três eixos curatoriais. O primeiro apresenta Gianni como homem, artista e inovador. O segundo foca em sua relação com Londres, cidade onde estabeleceu laços com personalidades como Diana e Elton John. Por fim, o terceiro núcleo oferece uma linha do tempo visual de todas as coleções apresentadas pelo estilista em passarelas ao redor do mundo, revelando sua impressionante consistência criativa.

Mais do que um recorte sobre moda, a exposição oferece um retrato íntimo e vigoroso de uma mente inquieta. Gianni Versace nasceu em 1946 em Reggio Calabria, sul da Itália, em uma família ligada à moda. Aprendeu a costurar com a mãe, Franca, uma costureira respeitada que comandava um ateliê com mais de quarenta funcionárias. Estudou arquitetura, mas foi no universo dos tecidos e das formas que encontrou sua linguagem. Em 1978, fundou sua própria grife, com o apoio dos irmãos Santo, responsável pelas finanças, e Donatella, que logo se tornaria sua maior confidente criativa.
A morte trágica de Gianni em 1997, em frente à sua casa em Miami, interrompeu precocemente uma carreira que ainda prometia capítulos audaciosos. Donatella assumiu o comando criativo da maison e conduziu o legado do irmão com personalidade até março de 2025, quando a marca foi adquirida pelo grupo Prada.

O projeto curatorial da exposição é assinado pela DreamRealizer, equipe que há mais de oito anos pesquisa o universo de Versace. Em entrevista, o curador Von der Ahe explicou que a escolha de Londres como cenário da mostra teve um significado emocional e simbólico, já que a cidade sempre ocupou lugar central na trajetória do estilista. O processo de montagem levou seis meses, incluindo a coleta de novas peças e a reestruturação do percurso expositivo para refletir essa conexão especial.
Para Von der Ahe, o sucesso da exposição é sintomático de um desejo coletivo de revisitar os anos 1990, década que volta a inspirar novas gerações. “Gianni foi um dos primeiros grandes influenciadores. Hoje, tanto jovens quanto adultos olham para esse período com um misto de nostalgia e descoberta. Seu trabalho continua relevante, provocador e fascinante.”

Cada peça exibida em Londres parece reafirmar algo que nunca deixou de ser verdade: a moda, para Gianni Versace, era uma forma de arte em movimento. Não se tratava apenas de vestir corpos, mas de criar personagens, narrativas e atmosferas. A opulência, os cortes precisos, as estampas exuberantes e a teatralidade não eram excessos, mas códigos de um universo particular que segue ressoando, décadas depois, entre costuras douradas e silhuetas memoráveis.