De volta à São Paulo Fashion Week, a Santa Resistência apresentou uma coleção que parece emergir diretamente do encontro entre o mito e o mar. Sob direção criativa de Mônica Sampaio, a marca construiu uma narrativa em torno de figuras femininas aquáticas, sereias, Afrodite, Iara, Atargatis e Iemanjá, para refletir sobre o poder e a fluidez do feminino. Em todas, as águas servem de metáfora para transformação, força e mistério.
A paleta de cores acompanha essa imersão: azuis que evocam profundidades, brancos que lembram a espuma das ondas, verdes translúcidos, rosas delicados e o dourado que surge como luz sobre a superfície. As silhuetas seguem o mesmo ritmo: sinuosas, fluidas e em movimento constante, com pregas, franzidos e babados que se comportam como correntes marítimas. A leveza dos tecidos ganha contraponto em momentos de estrutura e impacto, como no vestido azul arquitetônico criado em parceria entre Mônica e o estilista Sillas Filgueira, que introduz um diálogo entre forma e fluidez.
A coleção também se fortalece nas colaborações que alargam seu território criativo. O designer Gefferson Villanova assina os looks masculinos, marcados por alfaiataria descontraída e toques náuticos, enquanto a artista Adriana Varejão inspira as padronagens de azulejo que percorrem a passarela, trazendo à superfície referências à cerâmica portuguesa e ao corpo feminino como território simbólico. As artesãs da Associação Farol de Cabedelo, na Paraíba, assinam vestidos com linhas de pesca e escamas, estabelecendo uma ponte entre tradição manual e poesia visual.
Em sua oitava travessia no SPFW, a Santa Resistência reafirma sua vocação para o diálogo entre arte, ancestralidade e moda. Mônica Sampaio define as mulheres que inspiraram esta coleção como “mulheres-oceanos”, aquelas que habitam e são habitadas pelas águas, que resistem e se transformam sem perder a própria essência. O resultado é uma coleção que não apenas homenageia o feminino, mas o traduz em movimento, textura e cor, como um mergulho sensorial na força do mar.
