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Hermès e LVMH voltam ao centro de uma disputa bilionária

O universo das grandes fortunas europeias volta a ser palco de um embate sensível. Nicolas Puech, herdeiro de quinta geração da família Hermès, entrou com um processo em Paris para tentar recuperar ações que, segundo ele, desapareceram de sua administração. A história envolve figuras centrais da indústria do luxo e uma acusação que movimenta novamente a já complexa relação entre Hermès e LVMH.

Puech, hoje com 81 anos, afirma que cerca de seis milhões de ações da Hermès teriam sido alienadas sem seu conhecimento durante o período em que o empresário confiou seus investimentos ao consultor financeiro Eric Freymond. A venda teria ocorrido enquanto Bernard Arnault construía silenciosamente uma participação significativa na Hermès no início dos anos 2010, episódio que marcou um dos capítulos mais tensos da concorrência entre os dois grupos franceses.

De acordo com documentos encaminhados ao tribunal civil de Paris, Puech acredita que Freymond repassou suas ações a Arnault durante esse movimento estratégico de aquisição. O consultor, porém, faleceu em julho, deixando lacunas que tornaram a disputa ainda mais intricicada. Em paralelo ao processo contra Arnault e a LVMH, o herdeiro também havia acionado a justiça suíça no ano passado, alegando má administração por parte de Freymond. O tribunal rejeitou a acusação ao entender que Puech depositou confiança plena e irrestrita no assessor, inclusive permitindo acesso direto às suas contas bancárias.

Diante da nova acusação, a LVMH divulgou um posicionamento categórico. O grupo afirmou nunca ter possuído ou negociado ações não declaradas da Hermès e rejeitou qualquer insinuação de participação na suposta perda dos ativos do herdeiro. A companhia reforçou que Puech recorreu à justiça francesa após decisões desfavoráveis na Suíça, reiterando que não existem ações ocultas sob domínio da LVMH ou de seu presidente.

O caso reacende a memória de uma das investidas mais ousadas de Arnault, que há mais de uma década surpreendeu o mercado ao acumular discretamente uma fatia de 23 por cento da Hermès. A família, então, buscou mecanismos legais para impedir uma tomada de controle e manteve o conglomerado rival à distância. O episódio deixou marcas profundas. Puech, até então integrante do conselho supervisor da empresa, afastou-se da governança em 2014, em meio a relatos de tensões internas e divergências sobre o relacionamento com a LVMH.

A Hermès permanece como uma das joias mais valiosas do setor, avaliada recentemente em mais de duzentos bilhões de dólares. Cerca de cem herdeiros controlam dois terços da companhia e figuram entre os clãs familiares mais ricos do mundo, impulsionados por anos consecutivos de resultados históricos. A disputa judicial iniciada por Puech adiciona uma nova camada a essa trajetória, agora marcada pela busca por respostas sobre o destino de ações que o herdeiro acredita terem sido desviadas.

O processo criminal aberto por ele segue em andamento, enquanto o mercado acompanha atentamente os desdobramentos de uma história que volta a expor rivalidades e fragilidades no topo da indústria global do luxo.

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